sexta-feira, 26 de julho de 2013

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 05.



Continuação do post anterior.
Separadas das igrejas Ortodoxas existem as Igrejas cristãs cujas bases são anteriores ao estabelecimento do catolicismo e da ortodoxia. É o caso das igrejas não-calcedonianas e da Igreja Assíria do Oriente (Nestoriana).
Entre as igrejas não-calcedonianas, destaca-se a Igreja Copta, cuja história é um cadastro de heróicos mártires. Como importante província do Império Romano, o Egito atraiu toda a fúria da perseguição dos imperadores, principalmente de Diocleciano, na derradeira década do império pagão. Foi nesse começo do século 4 que teve início o calendário copta, marcando a era dos mártires, muitos dos quais são celebrados no calendário romano e também no bizantino.
Além da marca do martírio, a Igreja Copta assinalou a história com a propagação do pensamento cristão. Em Alexandria floresceu a primeira Escola Catequética, como universidade de estudos filosóficos e teológicos de grandes mestres como Atanásio, Cirilo, Orígenes, Dídimo o Cego, etc. Atanásio foi quem escreveu o Credo, que é recitado na liturgia de todos os ritos; Dídimo o Cego, conhecia a Bíblia de cor. Cirilo é o teólogo da Encarnação do Verbo de Deus.
O monaquismo é um dom do Egito e surgiu da necessidade de orar sempre, de meditar na palavra de Deus e guardar a vida cristã, longe do mal do mundo. Santo Antão é o primeiro eremita, cuja vida foi escrita por Atanásio. Outro amigo de Atanásio foi Pacômio, o fundador da vida cenobítica ou comunitária, regida por uma regra comum, tão importante que Basílio a levou para o Oriente bizantino e Cesário, para o Ocidente católico. Foi esta a Regra que inspirou Bento, o educador da Europa.
Os coptas são os cristãos herdeiros de Marcos.  Marcos, o escritor do segundo evangelho foi missionário em Alexandria. A igreja copta teve início com a pregação de Marcos no Egito. Foi ele o fundador da primeira Igreja cristã no norte da África. Daquela primeira comunidade se desenvolveu a Igreja dos “coptas”, do nome árabe para os egípcios (“qubte”). É uma Igreja da Ortodoxia, mas que se distingue por ser monofisista e de hábito histórico de viver isolada.
Dessa Igreja copta, pela evangelização, nasceu a Igreja dos etíopes por volta do ano 640, que se tornou autônoma em 1948. Da Igreja copta etíope se originou a Igreja copta da Eritréia. Hoje os coptas no Egito são estimados entre 10 e 15 milhões, sob a direção do seu patriarca que tem o nome de papa, o Papa Shenuda III, que vive no Cairo e é o 117º. Patriarca, depois de São Marcos. Na Etiópia, eles chegam a 32 milhões, e o Patriarca é o Abuna Paulos. Na Eritréia são 2 milhões, e seu Patriarca Antonios está em prisão domiciliar, por força do regime político ditatorial. No seu lugar foi colocado Abuna Dioskoros, não reconhecido pelas outras Igrejas da Ortodoxia.
Para os coptas, o jejum é uma prática importantíssima. Durante o dia de jejum, nada se pode comer desde o amanhecer até o pôr-do-sol. Os coptas da Etiópia consideram Lalibela uma cidade santa construída por anjos. Os turistas a reconhecem como uma maravilha arquitetônica e uma ilha de espiritualidade. Lalibela é um lugar fascinante com suas onze esplêndidas igrejas escavadas na rocha. Hoje continua a ser meta de peregrinação de milhares de fiéis. Há alguns anos os turistas começaram a vir visitá-la em grande número. O noticiário da revista Portas Abertas informa que, “em Setembro de 2008, líderes das igrejas evangélicas de Lalibela, norte da Etiópia, receberam ordem de interromper todos os cultos em suas igrejas. A pressão da igreja ortodoxa da Etiópia para destruir a associação dos protestantes foi tão severa que muitos deixaram a área”.
O copta foi a língua nacional egípcia do século III, época da conversão ao cristianismo da maioria da população, até o século XII, quando a invasão muçulmana determinou o uso generalizado da língua árabe e a mudança de religião, deixando em pouco tempo o Islã como majoritário.
“Aghapy”, que quer dizer “amor incondicionado” (“ágape”), é a TV dos coptas do Egito, com sede no Cairo. A transmissão dos cultos é feita pela internet, podendo ser acessada pelo endereço eletrônico abaixo:
http://www.livestream.com/elmaqar?utm_source=website-channel-page&utm_medium=related
 Continua no próximo post.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 04.



Continuação do post anterior.
A terceira grande divergência é referente ao poder. Duas teses entraram em divergência: Uma, tradicional, na Igreja do oriente, segundo a qual a ordem dos bispados na hierarquia era determinada pela ordem civil das cidades das quais eram titulares. O Concílio de Nicéia reconhecia, outrossim, a autoridade dos bispos de Roma. O de Constantinopla reconhecia a autoridade do seu bispo. Portanto, quando Constantinopla se tornou a capital do império seu bispo devia tornar-se o chefe da cristandade.
Com paroxismos e tréguas, esse conflito se prolongou até a conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453. A Igreja Ortodoxa Grega recebeu, então, a jurisdição sobre todos os cristãos de Império Turco, cujas fronteiras se confundiam com as de Patriarcado de Constantinopla. Escapa-lhe somente a Rússia que obtêm que Moscou seja erigida como Patriarcado independente. Seu chefe é o Patriarca de Moscou. As noventa e três dioceses correspondem às Regiões administrativas provinciais da Rússia.
Na Igreja Ortodoxa russa, duas academias de teologia e três seminários asseguram a formação de um clero cuja função é limitada estritamente ao culto. Os edifícios religiosos e até os utensílios sagrados pertencem ao Estado que os empresta à pedido. Os recursos financeiros são sujeitos ao controle do governo, além das doações dos fiéis e da venda de pão bento e de velas. Depois dessa ocasião, a história das igrejas ortodoxas, passou a seguir as independências nacionais. Assim se tornaram independentes as igrejas da Sérvia, da Grécia, da Bulgária, de Chipre, de Alexandria, de Antioquia, de Jerusalém, da Romênia e da Albânia.
O que caracteriza religiosamente a tradição ortodoxa é a maneira de privilegiar três aspectos da fé cristã: A Ressurreição, a Trindade e o Espírito Santo. A Páscoa é a maior festa ortodoxa. É o dia em que os fiéis enchem as Igrejas, cantam hinos e se saúdam alegremente, dizendo, em lugar de “Feliz Páscoa”: Jesus Cristo ressuscitou!. E respondem: - É verdade, Ele ressuscitou!.
È que, para os ortodoxos, a Páscoa é verdadeiramente a passagem da morte para a vida. Não representa o aniversário da reanimação de um corpo morto, mas o sinal da vitória de Cristo sobre a morte. É também a certeza de vida eterna para todos os crentes. Com Cristo e por Ele, o cristão participa da vida divina.
A Trindade é o centro da fé cristã que a distingue de todas as outras religiões. Por isso é que o ícone mais célebre da Igreja Ortodoxa representa os três hóspedes misteriosos de Abraão. Também, os russos se persignam com três dedos. (Persignar é “fazer o sinal da cruz”, isto é, fazer três cruzes com a mão, uma na testa, outra no peito e outra na boca, dizendo: “Pelo sinal da santa cruz, livrai-nos Deus, nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”).
O Deus triunitário dos ortodoxos é a unidade viva que reina entre as pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Crer na Trindade é crer também na superação das divergências por meio da comunhão do amor. A fé ortodoxa na Trindade é rejeição da excomunhão. A Igreja é formada à imagem da Trindade, isto é, da comunhão de amor de todos os crentes, formando um só corpo.
É pelo Espírito Santo que sopra sobre eles, que os fiéis ortodoxos se tornam corpo de Cristo e portadores do Espírito. Essa presença do Espírito torna-os testemunhas da verdade.
Separados de Roma, à qual, quase nunca estiveram unidas, as Igrejas Ortodoxas realizam periodicamente tentativas de aproximação com a igreja Católica. Juntamente com algumas igrejas evangélicas, tenta-se uma reunificação do Cristianismo no Conselho Mundial de Igrejas. Um dos caminhos para se chegar a essa unificação do Cristianismo pode ser um maior conhecimento da igreja antiga é tentar entender as razões que levaram às divisões e aos cismas.
Continua no próximo post.