sábado, 20 de dezembro de 2014

Os grandes cismas do Cristianismo – 23.
O protestantismo vivo.
O protestantismo não se limita à Lutero, Zuinglio e Calvino. Nem no espaço, nem no tempo. Com formas e sucessos diferentes, a Reforma se espalhou rapidamente pelos países escandinavos (Suécia, com Gustavo Vasa, em 1527; Dinamarca e Noruega), pela Alemanha, pela Suíssa, pela Inglaterra, com Henrique VIII (1531), pela Escócia (1547),pela Hungria, pelos Países Baixos, pela Boêmia e pela Polônia... A emigração para os Países Baixos (1570), depois para a América do Norte (1620), marcará de puritanismo os futuros Estados Unidos da América. O puritanismo originalmente era uma facção presbiteriana da Inglaterra e da Escócia ue protestava contra a liberdade dos costumes do século XVII. Deu certo espírito de vigor moral à América dita puritana.
Teólogos contemporâneos – A Reforma não cessou de produzir teólogos de renome que fecundaram o nosso tempo:
  • - o silécio Friedrich Daniel Ernst Schleiermarcher (1768-1834), pai da teologia prática, da sociologia religiosa e da hermenêutica. A hermenêutica é a ciência da interpretação da mensagem dos textos cristãos;
  • - o suísso Alexandre Vinet (1797-1847), porta-voz de uma liberdade da fé, chamado hoje “laicidade”, e precursor da separação entre a Igreja e o Estado:
  • - o suísso Karl Barth (1886-1968), o teólogo do empenho contra o nazismo e o stalinismo, mas homem de todos os diálogos, em particular com os marxistas, o militante pela paz e o mensageiro da esperança em uma Igreja pobre e serva da palavra libertadora de Deus;
  • - O alemão Rudolf Bultmann (1884-1976), o exegeta que demitologizou o Novo Testamento, para torná-lo melhor falante ao homem contemporâneo das naves espaciais. Com isso lembrou o essencial de fé hoje: o nascimento do novo homem aberto ao outro e ao amor. Exegeta é aquele que explica de maneira crítica os textos antigos;.
  • - o alemão Paul Tillich (1886-1965), emigrado para os Estados Unidos, filósofo e teólogo atento às aspirações religiosas sempre presentes no homem que as ignora, e a procura da linguagem que lhe revele Cristo e Deus em nosso tempo;
  • - O berlinense Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), o resistente de Deus que quis estar até a morte a serviço do mundo amado por Deus, porque a Igreja é feita para o mundo.

sábado, 13 de setembro de 2014

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 22.

A Reforma na França com João Calvino.
Continuação do post anterior.
Várias analogias aproximam o reformador francês de Lutero.
Em primeiro lugar, a situação da Igreja. Apesar de diferentes, os abusos não eram menores na França do que na Alemanha e diziam respeito aos costumes e principalmente ao escândalo da distribuição e do acúmulo de benefícios eclesiásticos.
Em seguida o papel do humanismo. Calvino foi muito influenciado pelo humanista alemão Melchior Vollmar, que lhe ensinou o grego e o hebraico. Mas toda a atmosfera do tempo era impregnada de humanismo e de reformismo. Seu guia foi Lefèvre d”Etaples, cujo comentário sobre as epístolas de Paulo (1512) e cuja tradução francesa dos evangelhos (1523) iniciaram uma reforma pacífica, bem aceita até na corte de Margarida de Anguleme
Calvino está próximo de Lutero ainda por semelhança de vida familiar e de educação. Como Lutero, era filho de uma mãe devota e de um pai rigoroso. Como Lutero conheceu a rigidez doutrinal no Colégio de Montaigu.
Ambos tem doutrina que converge no essencial: o fundamento do cristianismo é a Escritura . È ela que é a autoridade. O Evangelho é o centro da vida cristã. O cristão não tem outra certeza senão a segurança da graça de Cristo.
O Calvinismo. Todavia, por causa do contexto da França e de Basiléia, e da influência de Melanchton e Zuínglio, o calvinismo difere do luteranismo em três pontos importantes. - Durante muito tempo Calvino esperou e desejou uma reforma interna da Igreja.
De espírito mais lógico do que Lutero, Calvino centrou a religião cristã em Deus _Pai, Filho e Espírito Santo – soberanamente livre. A salvação vem só dEle. É o que se chama predestinação. Que o pecador, seja salvo ou não, não depende do homem, que é incapaz disso. A livre graça de Deus só pode vir de sua providência.
Não existe teologia abstrata e intemporal, válida em todos os lugares e tempos. Ela não é algo absoluto, mas relativo: uma procura, às apalpadelas, da verdade de Deus, com relação as comunidades historicamente situadas. A teologia se enraíza na experiência dos cristãos e alimenta sua vida. É a idéia muito moderna da livre pesquisa teológica.
Na mesma linha de nexo entre a teologia e a história, a originalidade do pensamento calviniano reside na reflexão sobre as relações entre religião e a política. O Estado se insere no plano de Deus e é um dos instrumentos da Providência divina. Isto significa que sua função é realizar a justiça neste mundo. Conseqüentemente o cidadão cristão tem o dever de submissão às autoridades justas do Estado e de desobediência à tirania.
Por duas vezes as circunstâncias levaram Calvino a por em prática essa doutrina em Genebra. Em 1536 foi retido pelo reformador G. Farel. Em 1541, foi chamado pelos próprios genebrinos. Em quatro artigos organizou ele a disciplina religiosa dos fiéis genebrinos e também uma espécie de tribunal e de polícia de costumes, para transformar Genebra em “cidade igreja” e os genebrinos em ascetas. Sob a direção do Consistório, Genebra se tornou refúgio para os reformados e como que “a Roma do Protestantismo”. Assim, o amor intransigente à verdade, mudou o reformador religioso e político em inquisidor intolerante e implacável. A perseguição e o martírio de Miguel Servet mostram que, depois de ter defendido os mártires da reforma, o reformador foi carrasco de um novo reformador.
Resta a obra de Calvino: cinqüenta e nove volumes escritos por ele e uma doutrina sólida e original, enraizada na organização das igreja reformadas da França, voltadas para a unidade cristã.
Continua no próximo post.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 21.

A Reforma na Suiça com Ulrico Zuínglio.
Continuação do post anterior.
Zuínglio estabeleceu a primeira Igreja reformada suíça na cidade livre de Zurique. Cura em Gláris, depois pregador em Einsiedeln, lendo o Novo Testamento grego de Erasmo, ele, como Lutero, teve a certeza de que o cerne do Evangelho é a boa nova da paternidade de Deus misericordioso. A leitura das obras de Lutero confirmou sua fé renovada. Ele a defendeu em 1523, em um grande debate perante o bispo. O Grande Conselho de Zurique adotou o seu programa reformador: liturgia na língua popular, substituição da missa pela pregação da Palavra, supressão das estátuas, secularização dos conventos e expropriação dos bens da Igreja.
Mas uma questão da doutrina separava Lutero de Zuínglio: Cristo está realmente presente no pão e no vinho da eucaristia? Sim, dizia Lutero, embora não se saiba como. Assim a santa ceia transmite a vida de Jesus e transmite a vida entre os fiéis. Não replicava Zuínglio. Jesus não disse: “Isto é o meu corpo”, mas: “isto é sinal de meu corpo”. A ceia somente lembra a última refeição de Cristo.
Um encontro em Malburg, em 1529, só permitiu constatar a divergência. Se todos concordam que o cristão se alimenta espiritualmente do corpo e o sangue de Cristo, divergem sobre “a presença do verdadeiro corpo e sangue do Senhor no pão e no vinho da ceia”.
Apesar dessas disputas, Zuínglio lembrou ao cristianismo uma exigência sempre atual: a necessidade de ser o cristianismo vivido politicamente. O reformador mostrou de modo especial no sermão “A justiça divina e a justiça humana”, mas também em seus atos, que é construindo uma cidade terrestre de justiça que o cristão vive sua fé em Cristo e o amor de Deus pelos homens.
Essa sociedade civil reformada se estendeu a Berna, ao Cantão de Vaud e a Genebra, onde Calvino encontrou refugio. Mas a guerra contra os Cantões católicos terminou com a morte trágica de Zuínglio em Kappel, em 1531. A Confederação Helvética permaneceu dividida religiosamente por três séculos.
Continua no próximo post.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 20.



Continuação do post anterior.
A Doutrina de Lutero.
Está exposta nos vinte e oito artigos da Confissão de Augsburgo, que Melanchton (teólogo, amigo de Lutero, que desejava sintetizar as idéias deste, mantendo a unidade da Igreja) apresentou à Dieta em 1530. Lutero a confirmou com a Apologia e com os Artigos de Esmalcalda. Lutero teve uma enorme produção literária, mais de cem fólhas na grande edição de Weimar, mas também revelou a sua poderosa originalidade e enervante profundidade. Apenas dois outros teólogos na história da Igreja, Agostinho e Tomás de Aquino, aproximam-se da estatura de Lutero.
A historiografia católica tradicional retrata Lutero como sendo um monge louco derrubando os pilares da Igreja mãe. Para os protestantes ortodoxos Lutero foi o cavaleiro divino, um Moisés, um Sansão (demolindo o templo dos filisteus!), um Elias, até mesmo o quinto evangelista ou um anjo do Senhor.
Longe de tentar fundar uma nova denominação, Lutero sempre viu a si mesmo como um fiel e obediente servo da Igreja. Daí seu profundo desgosto pelo fato de os primeiros protestantes, na Inglaterra e na França, assim como na Alemanha, terem sido chamados “luteranos”. Ele pediu que as pessoas não usassem o seu nome e se chamassem luteranas, mas cristãs. Ele dizia: “Quem é Lutero? O ensino não é meu. Não fui crucificado por ninguém. Como eu, miserável que sou cheguei ao ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome?”.    
A teologia de Lutero é fundada na Sagrada Escritura. É ela que é autoridade em matéria tanto de organização das igrejas, como de moral e de fé. Todo o homem nasce marcado pela queda original de Adão, transmitida a todos os seus descendentes. Depois, ele se tornou como árvore má: só pode produzir frutos maus. Tendo-se Deus se retirado dele, todas as suas ações só podem ser pecaminosas. Privado da vontade livre, o homem só realiza o bem ou o mal segundo o desígnio de Deus.
Mas a morte de Cristo na cruz por todos os homens assegura o perdão e a salvação aos que crêem nEle. O justo é salvo pela fé. Deus não vê mais os pecados de quem confia em seu amor manifestado pelo dom de seu Filho.
Consequentemente, não são os méritos dos homens, nem as missas, nem as peregrinações e outras práticas religiosas que salvam o pecador. Ele pode apenas reconhecer a misericórdia de Deus pela pureza de sua vida moral, em particular, nas funções que exerce.
A Igreja é comunidade espiritual cuja cabeça é Cristo. O único Mestre é Ele, e não o papa, que não tem nenhum título para se proclamar seu representante. Todos os fiéis são sacerdotes. Os ministros, delegados pela comunidade, presidem só a oração, a administração dos sacramentos e a pregação.
Há somente dois sacramentos: o batismo e a ceia, sinais que lembram as promessas de Deus e fortalecem a Fé.
Continua no próximo post. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 19.


A Reforma na Alemanha com Martinho Lutero.
Continuação do post anterior.
A Alemanha do século XVI oferecia um terreno privilegiado para o desenvolvimento das ideias reformistas. Lá, a Igreja, grande proprietária de terras, distribuía bispados e abadias. Com suas taxas e coletas, arrecadava recursos abundantes. Os costumes do clero, bispos e curas, eram bastante depravados. Mais que em outros lugares, lá a imprensa difundira muitas edições da Bíblia e das obras dos humanistas.
Foi nessa situação que Lutero jovem estudante de Direito e humanista em Erfurt, entrou para o convento dos agostinianos em julho de 1505 para tornar-se verdadeiramente cristão.
Monge escrupuloso era perseguido pelo terror de não merecer a livre graça de Deus, tomado de medo da justiça divina. Mas a leitura incessante da Escritura acabou convencendo-o de que “a justiça de Deus significa a justiça que Deus dá e pela qual o justo vive, se tiver fé”. Descobriu que Deus, Pai de Jesus Cristo é Deus de amor. Por sua fé em Cristo Salvador, o cristão sabe que é, simultaneamente, “sempre pecador”, “sempre arrependido” e “sempre justo”. Ou melhor, que a fé em Jesus Cristo o justifica. Porque Deus, por seu Filho, manifesta sua confiança no homem; e a fé do justo é a acolhida dessa confiança. Foi essa convicção entusiasmada que deu a Lutero a coragem de opor-se, em nome dessa verdade escriturística, à autoridade eclesiástica.
O debate começou a propósito da questão das indulgências, em 1517. Para o término da construção da Basílica de São Pedro em Roma, o arcebispo de Maiença pôs a vender em toda a Alemanha “indulgências”, isto é, o livramento de uma penitência, aplicável também aos defuntos, ainda no purgatório. Os banqueiros de Augsburg, com os quais Alberto de Brandenburgo estava endividado, recolhiam os pagamentos. Os dominicanos, entre os quais João Tetzel foram encarregados da pregação das indulgências. Escandalizado, Martinho Lutero protestou junto às autoridades eclesiásticas. Denunciou do alto do púlpito, esse engano e por fim afixou na porta da igreja de Wittemberg, 95 proposições condenando as indulgências: “é só Deus que perdoa e salva”. Os estudantes se encarregavam de difundir as proposições.
Intimado a se retratar, Lutero apelou várias vezes ao papa, mas se recusou a apresentar-se em Roma. Depois da disputa de quatro dias com o legado papal e de dois escritos, Lutero foi excomungado pelo papa. Entrementes, Lutero redigiu e publicou os escritos que fundam a Reforma: “Da liberdade do cristão”, “A nobreza cristã da nação alemã” e “Prelúdio sobre o cativeiro babilônico da Igreja”, destinados ao clero.
Mais tarde para replicar a Erasmo, ele escreveu “Do servo arbítrio“, e contra os anabatistas, O dever das autoridades civis de se oporem aos anabatistas por castigos corporais; enfim, escreveu o Pequeno e o Grande Catecismo e a célebre Confissão de Augsburg.
        Continua no próximo post.

terça-feira, 4 de março de 2014

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 18.

 

O Protestantismo.
Continuação do post anterior.

O Protestantismo foi Protesto cristão, em nome do Evangelho, contra os escândalos de uma cristandade e de uma Igreja cujos comportamentos contradiziam os ensinamentos de Jesus. O nome protestante foi dado à Reforma só em 1529, quando seis príncipes e catorze cidadãos livres, na dieta de Speyer, levantaram solene protesto contra as exigências católicas.
Entre os seus precursores podemos incluir antepassados muito anteriores ao século XVI, como Pedro Valdo e sua confraria dos pobres de Lion, encarregados de difundir o Evangelho em língua popular. Os discípulos de Valdo, os valdenses, foram massacrados por ordem do imperador Francisco I, em 1545. Alguns remanescentes ainda sobrevivem nos Alpes.
Mais tarde, foi o papado que causou escândalo por seu luxo, pelo peso excessivo de seu fisco e por suas intervenções políticas e militares. Desde o século XIV, os excessos e a corrupção da Igreja Católica Romana provocaram em seu próprio meio críticas e pedidos de reformas. Os mais importantes foram os dos teólogos e clérigos Wyclif (1320-1384), professor da Universidade de Oxford, e John Huss (1370-1415), decano da Faculdade de Teologia de Praga.
Os dois se opuseram aos direitos e privilégios do clero. Puseram em questão principalmente o poder do papa e do clero de serem os únicos intérpretes da Escritura. Wyclif rejeitou o dogma da transubstanciação. Segundo a transubstanciação, a substância do pão e do vinho é mudada, de fato, na substância do corpo e do sangue de Cristo nas celebrações da ceia do Senhor. John Huss, depois de sua tradução da Bíblia para o tcheco, em seu tratado “Da Igreja”, distingue a instituição da igreja católica romana e a Igreja universal fundada por Jesus. Os dois foram declarados hereges, e John Huss, preso e torturado, morreu na fogueira em 6 de julho de 1415.
Simultaneamente, a difusão da Bíblia pela imprensa e o desenvolvimento do espírito crítico, graças ao humanismo, punham em evidência as contradições entre o Evangelho e a vida da Igreja. Em “Elogio da Loucura”, o humanista Erasmo de Roterdan, de forma irônica, opôs o comportamento dos papas Alexandre VI, o corrupto, de Júlio II, o guerreiro, e de Leão X, o mecenas, ao exemplo de Jesus.
Vários concílios reconheceram a necessidade de reformas e tentaram realizá-las. Em 1436, um cardeal, Juliano Cesarindo, proclamava a urgência de se reformar a Igreja no chefe e nos membros.
Exortações várias, reformas abortadas e condenações dos que protestavam, por heresias, só conseguiram mostrar melhor a situação intolerável da Igreja Católica Romana no século XVI e a necessidade indispensável de seu retorno imediato à simplicidade primitiva. A reforma que nasceria dessas reações, surgiu quase ao mesmo tempo em três lugares diferentes: na Alemanha, na Suíça e na França.
Continua no próximo post.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Os Grandes cismas do Cristianismo - 17.



Continuação do post anterior.
Relações da Ortodoxia com Protestantes e Anglicanos.
1. Missionários Protestantes na igreja Ortodoxa.
Pouco antes de o protestantismo começar a se rachar numa multidão de igrejinhas, devido à sua falta de unidade no dogma e no comando, e à livre interpretação das Escrituras, de acordo com o entendimento de cada um, que representantes dessas muitas igrejas protestantes, particularmente da América, começaram a visitar a Grécia, por volta de 1810; e outros chegaram logo depois da Revolução grega, com o objetivo de ajudar os gregos no seu despertar nacional e espiritual. Alguns deles abriram escolas, que eram a gritante necessidade daquele tempo, e outros distribuíram livros ou deram cópias das Sagradas Escrituras no texto original ou em traduções para o grego moderno.
Os gregos, no início, receberam isso sem suspeita como um presente dos seus benfeitores; e certos Patriarcas de Constantinopla, como Cirilo VI em 1814 e Gregório V em 1819, aplaudiram a propagação das Escrituras e louvaram as traduções para o grego popular como sendo de grande benefício para o povo. Mas quando os missionários protestantes começaram a revelar suas reais intenções de tentar conseguir conversões, e distribuir pequenos volumes ofensivos aos sentimentos ortodoxos, geraram a inimizade da nação e imediatamente tornaram-se impopulares, sendo suas Escrituras queimadas em fogueiras. Os gregos que haviam sofrido tanto pela preservação de sua fé, estavam agudamente sensíveis a qualquer ataque a ela. Eis aí o porquê de, depois de mais de um século de atividade na Grécia, o Protestantismo não conseguiu mais do que um punhado de "Evangélicos" em Atenas e outras localidades.
2. Anglicanos e Ortodoxos.
As relações entre as Igrejas Ortodoxas e Anglicanas são completamente diferentes, pois os anglicanos, somente eles entre os vários ramos do protestantismo, tanto reconhecem as três ordens do Sacerdócio como mais ou menos louvam a Sagrada Tradição. Como já notamos, relações foram estabelecidas entre Ortodoxos e Anglicanos primeiramente no tempo de Lucar. Foram renovadas no século dezoito, quando os non-jurors (a seção da Igreja Anglicana que se recusou a fazer o juramento de lealdade a George I da Inglaterra) submeteram aos Patriarcas do Oriente, um plano de união com as Igrejas do Oriente. Mas foi de 1869 em diante, que anglicanos e ortodoxos começaram a se aproximar, quando o Patriarca de Constantinopla Gregório VI, depois de receber com grande satisfação cartas de Campbell, Arcebispo de Canterbury, em favor da união, mandou uma carta encílica a seu clero, orientando-os a sepultar membros da Igreja Anglicana, na ausência de Ministros Anglicanos; e mandou o Arcebispo de Syra, Alexandre Lycurgos, para a Inglaterra, para fortalecer os elos entre as duas igrejas.
Desde então, bispos Anglicanos têm visitado as Igrejas do Oriente, como João de Salisbury em 1898, o Bispo de Londres no começo da Guerra Mundial, e o Arcebispo de Canterbury, Cosmo Lang, que foi bem-vindo em Atenas no último ano. Bispos da Grécia, Rússia, Sérvia e outros países, o Patriarca Photius de Alexandria e Damianos de Jerusalem, visitaram a Inglaterra em troca, e juntaram-se aos anglicanos em solenes orações na Catedral de São Paulo e na Abadia de Westminster. Um grande passo adiante na relação entre as duas igrejas foi dado no verão de 1930, quando quase todas as Igrejas Ortodoxas mandaram representantes para a Conferência de Lambeth, sob a liderança do Patriarca de Alexandria, Meletius Metaxakis, para discutir e levantar termos de união. Essa amizade entre anglicanismo e ortodoxia é devida ao reconhecimento pela Igreja Ortodoxa da validade das ordens anglicanas, que sempre foram questionadas pela Igreja de Roma; pela abstenção na Igreja Anglicana de esforços para converter Ortodoxos; e pela troca de cartas de paz em ocasiões cerimoniais.
As Igrejas Ortodoxa e Anglicana diferem entre si em pontos de dogma, e uma união sacramental entre elas é no momento uma possibilidade ainda remota. A diferença de crença, que caracteriza uma igreja, é incompatível com a uniformidade da fé, professada pela outra. Mas por mútuo interesse que elas têm, e pela natureza fraterna de suas relações externas, Anglicanismo e Ortodoxia estão seguindo o caminho que todas as igrejas separadas deveriam seguir para atingir a completa e universal unidade.
       Continua no próximo post.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 16.

Continuação do post anterior.
Ataques Papistas à Igreja do Oriente.
A Igreja Romana nunca deixou de sonhar com a sujeição da Igreja do Oriente, e nunca falhou em aproveitar qualquer desordem, independente de onde ocorrese, para levar vantagem. Saudando a queda de Constantinopla como uma punição divina infligida aos obstinados gregos, ela rapidamente mandou contra os Cristãos do Oriente seus formidáveis jesuítas, que, de 1583 em diante, começaram a aparecer sucessivamente em Constantinopla, Chios, Damasco, Naxos, Nauplion, Patras, Atenas e outros locais.
Como se isso não fosse suficiente, em 1581, o Papa Gregório XIII fundou o Colégio de Santo Atanásio em Roma, onde jovens gregos inteligentes escolhidos em distritos gregos foram levados para Roma para serem educados de acordo com os princípios católicos romanos, e depois enviados de volta, como um outro tipo de Janisários, contra a fé que os havia nutrido na infância. E mais, em 1622, o Papa Gregório XV instituiu sua "propaganda para os descrentes," cujo objetivo como descrito na Bula Papal era "a conversão das nações do Império Turco, uma vez gloriosas e dotadas com admiráveis dons divinos, que agora permanecem mergulhadas em uma situação embrutecida e, tendo caido para o nível de feras selvagens, só continuam a existir para aumentar as multidões do inferno, para maior glória de satã e seus anjos." Diplomacia e suborno, calúnia e coerção, persuasão e dissenção, — essas foram as várias armas empregadas pela despótica Igreja Romana em seus esforços para dominar seus irmãos necessitados.
A Primeira Carta Protestante.
Assim como o século onze viu a divisão da Igreja Una de Cristo na Igreja do Oriente e do Ocidente, o século dezesseis testemunhou a ruptura da Igreja do Ocidente em Igrejas Cetólica Romana e Protestante. A corrupção da fé e da moral que invadiu o romanismo, a decadência intelectual do clero romano, e o absolutismo do Papa, que usava uma tripla tiara para demonstrar seu domínio sobre os assuntos terrestres, celestes e infernais, — essas foram as causas que inspiraram os três grandes reformadores, Lutero, Calvino e Zwinglio, a protestar contra a Igreja de Roma, e a levantar contra ela metade da cristandade ocidental.
Completamente engajados em manter sua longa batalha com espada e pena, esses homens não tiveram tempo para pensar na escravizada igreja do oriente, que, muito antes deles, tinha levantado sua voz em protesto contra a arrogância de Roma. Um deles, no entanto, lembrou-se da ortodoxia; esse foi Melanchthon, um dos primeiros companheiros de Lutero, que ao encontrar Demetrius Mysos, que estava de partida para Constantinopla, em Wittenberg em 1559, confiou-lhe uma carta para o então Patriarca, Josaph II. Em sua carta ele agradece a Deus que no meio de tão grande multidão de inimigos ímpios e abomináveis, ele tivesse preservado para sí um rebanho que corretamente louva e clama por Seu Filho Jesus Cristo; e assegura ao Patriarca que os seguidores da Reforma também "devotamente observam as Sagradas Escrituras, os Canons dos Santos Concílios e os ensinamentos dos padres gregos, enquanto eles abominam a tagarelice, superstição e doutrinas desenvolvidas pelos latinos católicos incultos.
Continua no próximo post

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 15.

Ortodoxia na América.
Continuação do post anterior.


Igreja Grega - As fundações da primeira Igreja Ortodoxa Grega no Novo Mundo, foram lançadas no ano de 1866 em Nova Orleans. Na verdade isso foi quatro anos antes do efetivo começo da imigração para as Américas dos primeiros Cristãos Ortodoxos Gregos. Ainda antes dos primeiros povos imigrantes de 1870 porem os pés na nova terra, essa primeira pequena igreja existiu em Nova Orleans como resultado da esperança de alguns poucos mercadores gregos residentes nessa cidade. Os gregos tem um forte sentimento pela religião de seus antepassados e, com o tempo passando, com a imigração crescendo, as igrejas nasceram rapidamente em várias áreas das Américas. Nesse período a jurisdição dessas comunidades de Cristãos gregos veio a ficar com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Padres eram enviados da terra-mãe para as igrejas do novo mundo.
Março de 1908, o Patriarcado Ecumênico, encabeçado pelo Patriarca Joaquim III, transferiu a jurisdição espiritual das Igrejas Ortodoxas Gregas "no exterior" para o Santo Sínodo da Igreja da Grécia. Isto foi mantido pelos dez anos seguintes para muita desvantagem das comunidades na América — desvantagem porque não havia líder religioso presente, em solo americano, para providenciar a necessária organização numa área espalhada de muitas comunidades crescentes.
Felizmente, Meletios Metaxakis, Metropolita de Atenas, visitando os Estados Unidos em 1918, viu que a necessidade de um líder religioso era indispensável justo ali, não no país-mãe. Começou imediatamente a organizar as Igrejas Ortodoxas Gregas nas Américas estabelecendo o conclave sinódico em 20 de outubro de 1918, com o Bispo Alexander Rodostolou como Supervisor Sinódico.
O Metropolita de Atenas, Meletios voltou para a Grécia, mas regressou à América em três anos para continuar a organização da igreja. Isso era fevereiro de 1921. Enquanto ainda residindo na América, em 25 de novembro daquele ano, foi elevado ao posto de Patriarca Ecumênico de Constantinopla como Meletios IV. No mês de janeiro de 1922, ele chegou em Constantinopla.
Lá em sua nova posição, por um Ato Sinódico revogou o Decreto Patriarcal de 1908. Assim todas as comunidades gregas no exterior foram postas diretamente sob o Patriarcado Ecumênico e foram removidas da dependência do Santo Sínodo da Grécia. Em 11 de maio de 1922, ele declarou a Igreja da América uma Arquidiocese. Colocou o Bispo Alexander Rodostolou como Arcebispo das Américas do Norte e do Sul, com três Episcopados: — Boston, Chicago e São Francisco. Isso foi progresso. Existiram embaraços para agilizar o progresso entre 1922 e 1930. Durante esse período eventos políticos na Grécia dividiram os gregos na América. As comunidades tornaram-se divididas eclesiasticamente pois para um Cristão Ortodoxo, o âmago de sua vida é sua igreja. Felizmente, a necessidade de unidade religiosa e concordia foi conseguida a tempo. o recém eleito Patriarca de Constantinopla Photius II tomou o encargo da eliminação da discórdia.
O Metropolita de Corinto Damaskinos foi enviado para a América em maio de 1930 com o propósito de temporariamente governar as comunidades gregas na América e estabelecer a ordem. Durante o mesmo ano, o Arcebispo Alexander e os Bispos Philaretos de Chicago e Joaquim de Boston, partiram para a Grécia onde foram indicados como Metropolitas.
Em 20 de agosto desse mesmo importante ano, o Metropolita Athenagoras de Kerkyra foi eleito Arcebispo da América, chegando em Nova York em 24 de fevereiro de 1931. Dois dias depois, 26 de fevereiro foi entronado na Igreja de São Eleftherios em Nova York. Enquanto isso, o Metropolita Damaskinos tendo cumprido sua missão de restabelecer a ordem, voltou para casa.
Nos anos seguintes, existiram outras mudanças eclesiásticas. Em 1949 o Arcebispo Athenagoras havia servido como líder da Igreja Ortodoxa Grega na América por dezoito anos, um bem amado e importante batalhador pela fé. Ele deixou a posição ao ser indicado Patriarca de Constantinopla.
O Reverendíssimo Miguel, Metropolita de Corinto, veio nesse tempo servir como Arcebispo das Américas do Norte e do Sul, pois, no Santo Sínodo de 11 de outubro de 1949, ele havia sido eleito para essa função. Sob a jurisdição da Arquidiocese Grega das Américas do Norte e Sul, há o seguinte: todas as comunidades gregas nos Estados Unidos, Canadá, Ilhas Bahamas, Cuba, México, República do Panamá, Argentina, Brasil e Uruguai. As 357 comunidades estão agora bem organizadas e existem mais de 400 padres servindo a elas.
As comunidades sustentam escolas paroquiais, escolas dominicais e instalações da Greek Orthodox Youth of America (GOYA) ou Juventude Ortodoxa Grega na América. Três-quartos das comunidades tem escolas gregas à tarde, escolas dominicais, ensaios de coral e sociedades de senhoras caridosas. Mais da metade tem clube de jovens afiliados à GOYA e os Olympians (Organização Nacional dos Jovens Juniores da Arquidiocese Ortodoxa Grega). Existem também agora sete capelães Ortodoxos Orientais servindo nas forças armadas dos Estados Unidos e dois deles são Ortodoxos Gregos.
A Arquidiocese mantem o Seminário Teológico estabelecido em 1937 em Pomfret, Connecticut, e transferido para Brook-line, Massachussets,em 1946. No seminário, jovens americanos de linhagem greco-ortodoxa são treinados para o presbiterado ou para professores.
A Arquidiocese em 1944 estabeleceu a Academia de São Basílio em Garrison, Nova York. Ela tem dois ramos — uma para preparação de mulheres gregas para professoras e o outro uma escola pública para meninas muito novas de parentesco grego. Essa academia particularmente, está sob os cuidados da Sociedade Philoptocos de Senhoras Gregas.
A diminuta fundação da pequena igreja em Nova Orleans, construída por poucos esperançosos mercadores gregos, desenvolveu-se a Igreja Ortodoxa Grega da América, agora um membro tanto do Nacional quanto do Mundial Conselho de Igrejas de Cristo. Em agosto de 1954, o Arcebispo Miguel foi nomeado um dos seis co-presidentes do Conselho Mundial de Igrejas de Cristo. A fundação foi construída sobre a fé e esperança e mantem-se hoje em sólida verdade para um sempre crescente mundo Cristão.
Continua no próximo post.