segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Os Grandes cismas do Cristianismo - 17.



Continuação do post anterior.
Relações da Ortodoxia com Protestantes e Anglicanos.
1. Missionários Protestantes na igreja Ortodoxa.
Pouco antes de o protestantismo começar a se rachar numa multidão de igrejinhas, devido à sua falta de unidade no dogma e no comando, e à livre interpretação das Escrituras, de acordo com o entendimento de cada um, que representantes dessas muitas igrejas protestantes, particularmente da América, começaram a visitar a Grécia, por volta de 1810; e outros chegaram logo depois da Revolução grega, com o objetivo de ajudar os gregos no seu despertar nacional e espiritual. Alguns deles abriram escolas, que eram a gritante necessidade daquele tempo, e outros distribuíram livros ou deram cópias das Sagradas Escrituras no texto original ou em traduções para o grego moderno.
Os gregos, no início, receberam isso sem suspeita como um presente dos seus benfeitores; e certos Patriarcas de Constantinopla, como Cirilo VI em 1814 e Gregório V em 1819, aplaudiram a propagação das Escrituras e louvaram as traduções para o grego popular como sendo de grande benefício para o povo. Mas quando os missionários protestantes começaram a revelar suas reais intenções de tentar conseguir conversões, e distribuir pequenos volumes ofensivos aos sentimentos ortodoxos, geraram a inimizade da nação e imediatamente tornaram-se impopulares, sendo suas Escrituras queimadas em fogueiras. Os gregos que haviam sofrido tanto pela preservação de sua fé, estavam agudamente sensíveis a qualquer ataque a ela. Eis aí o porquê de, depois de mais de um século de atividade na Grécia, o Protestantismo não conseguiu mais do que um punhado de "Evangélicos" em Atenas e outras localidades.
2. Anglicanos e Ortodoxos.
As relações entre as Igrejas Ortodoxas e Anglicanas são completamente diferentes, pois os anglicanos, somente eles entre os vários ramos do protestantismo, tanto reconhecem as três ordens do Sacerdócio como mais ou menos louvam a Sagrada Tradição. Como já notamos, relações foram estabelecidas entre Ortodoxos e Anglicanos primeiramente no tempo de Lucar. Foram renovadas no século dezoito, quando os non-jurors (a seção da Igreja Anglicana que se recusou a fazer o juramento de lealdade a George I da Inglaterra) submeteram aos Patriarcas do Oriente, um plano de união com as Igrejas do Oriente. Mas foi de 1869 em diante, que anglicanos e ortodoxos começaram a se aproximar, quando o Patriarca de Constantinopla Gregório VI, depois de receber com grande satisfação cartas de Campbell, Arcebispo de Canterbury, em favor da união, mandou uma carta encílica a seu clero, orientando-os a sepultar membros da Igreja Anglicana, na ausência de Ministros Anglicanos; e mandou o Arcebispo de Syra, Alexandre Lycurgos, para a Inglaterra, para fortalecer os elos entre as duas igrejas.
Desde então, bispos Anglicanos têm visitado as Igrejas do Oriente, como João de Salisbury em 1898, o Bispo de Londres no começo da Guerra Mundial, e o Arcebispo de Canterbury, Cosmo Lang, que foi bem-vindo em Atenas no último ano. Bispos da Grécia, Rússia, Sérvia e outros países, o Patriarca Photius de Alexandria e Damianos de Jerusalem, visitaram a Inglaterra em troca, e juntaram-se aos anglicanos em solenes orações na Catedral de São Paulo e na Abadia de Westminster. Um grande passo adiante na relação entre as duas igrejas foi dado no verão de 1930, quando quase todas as Igrejas Ortodoxas mandaram representantes para a Conferência de Lambeth, sob a liderança do Patriarca de Alexandria, Meletius Metaxakis, para discutir e levantar termos de união. Essa amizade entre anglicanismo e ortodoxia é devida ao reconhecimento pela Igreja Ortodoxa da validade das ordens anglicanas, que sempre foram questionadas pela Igreja de Roma; pela abstenção na Igreja Anglicana de esforços para converter Ortodoxos; e pela troca de cartas de paz em ocasiões cerimoniais.
As Igrejas Ortodoxa e Anglicana diferem entre si em pontos de dogma, e uma união sacramental entre elas é no momento uma possibilidade ainda remota. A diferença de crença, que caracteriza uma igreja, é incompatível com a uniformidade da fé, professada pela outra. Mas por mútuo interesse que elas têm, e pela natureza fraterna de suas relações externas, Anglicanismo e Ortodoxia estão seguindo o caminho que todas as igrejas separadas deveriam seguir para atingir a completa e universal unidade.
       Continua no próximo post.