quarta-feira, 19 de março de 2014

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 19.


A Reforma na Alemanha com Martinho Lutero.
Continuação do post anterior.
A Alemanha do século XVI oferecia um terreno privilegiado para o desenvolvimento das ideias reformistas. Lá, a Igreja, grande proprietária de terras, distribuía bispados e abadias. Com suas taxas e coletas, arrecadava recursos abundantes. Os costumes do clero, bispos e curas, eram bastante depravados. Mais que em outros lugares, lá a imprensa difundira muitas edições da Bíblia e das obras dos humanistas.
Foi nessa situação que Lutero jovem estudante de Direito e humanista em Erfurt, entrou para o convento dos agostinianos em julho de 1505 para tornar-se verdadeiramente cristão.
Monge escrupuloso era perseguido pelo terror de não merecer a livre graça de Deus, tomado de medo da justiça divina. Mas a leitura incessante da Escritura acabou convencendo-o de que “a justiça de Deus significa a justiça que Deus dá e pela qual o justo vive, se tiver fé”. Descobriu que Deus, Pai de Jesus Cristo é Deus de amor. Por sua fé em Cristo Salvador, o cristão sabe que é, simultaneamente, “sempre pecador”, “sempre arrependido” e “sempre justo”. Ou melhor, que a fé em Jesus Cristo o justifica. Porque Deus, por seu Filho, manifesta sua confiança no homem; e a fé do justo é a acolhida dessa confiança. Foi essa convicção entusiasmada que deu a Lutero a coragem de opor-se, em nome dessa verdade escriturística, à autoridade eclesiástica.
O debate começou a propósito da questão das indulgências, em 1517. Para o término da construção da Basílica de São Pedro em Roma, o arcebispo de Maiença pôs a vender em toda a Alemanha “indulgências”, isto é, o livramento de uma penitência, aplicável também aos defuntos, ainda no purgatório. Os banqueiros de Augsburg, com os quais Alberto de Brandenburgo estava endividado, recolhiam os pagamentos. Os dominicanos, entre os quais João Tetzel foram encarregados da pregação das indulgências. Escandalizado, Martinho Lutero protestou junto às autoridades eclesiásticas. Denunciou do alto do púlpito, esse engano e por fim afixou na porta da igreja de Wittemberg, 95 proposições condenando as indulgências: “é só Deus que perdoa e salva”. Os estudantes se encarregavam de difundir as proposições.
Intimado a se retratar, Lutero apelou várias vezes ao papa, mas se recusou a apresentar-se em Roma. Depois da disputa de quatro dias com o legado papal e de dois escritos, Lutero foi excomungado pelo papa. Entrementes, Lutero redigiu e publicou os escritos que fundam a Reforma: “Da liberdade do cristão”, “A nobreza cristã da nação alemã” e “Prelúdio sobre o cativeiro babilônico da Igreja”, destinados ao clero.
Mais tarde para replicar a Erasmo, ele escreveu “Do servo arbítrio“, e contra os anabatistas, O dever das autoridades civis de se oporem aos anabatistas por castigos corporais; enfim, escreveu o Pequeno e o Grande Catecismo e a célebre Confissão de Augsburg.
        Continua no próximo post.

terça-feira, 4 de março de 2014

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 18.

 

O Protestantismo.
Continuação do post anterior.

O Protestantismo foi Protesto cristão, em nome do Evangelho, contra os escândalos de uma cristandade e de uma Igreja cujos comportamentos contradiziam os ensinamentos de Jesus. O nome protestante foi dado à Reforma só em 1529, quando seis príncipes e catorze cidadãos livres, na dieta de Speyer, levantaram solene protesto contra as exigências católicas.
Entre os seus precursores podemos incluir antepassados muito anteriores ao século XVI, como Pedro Valdo e sua confraria dos pobres de Lion, encarregados de difundir o Evangelho em língua popular. Os discípulos de Valdo, os valdenses, foram massacrados por ordem do imperador Francisco I, em 1545. Alguns remanescentes ainda sobrevivem nos Alpes.
Mais tarde, foi o papado que causou escândalo por seu luxo, pelo peso excessivo de seu fisco e por suas intervenções políticas e militares. Desde o século XIV, os excessos e a corrupção da Igreja Católica Romana provocaram em seu próprio meio críticas e pedidos de reformas. Os mais importantes foram os dos teólogos e clérigos Wyclif (1320-1384), professor da Universidade de Oxford, e John Huss (1370-1415), decano da Faculdade de Teologia de Praga.
Os dois se opuseram aos direitos e privilégios do clero. Puseram em questão principalmente o poder do papa e do clero de serem os únicos intérpretes da Escritura. Wyclif rejeitou o dogma da transubstanciação. Segundo a transubstanciação, a substância do pão e do vinho é mudada, de fato, na substância do corpo e do sangue de Cristo nas celebrações da ceia do Senhor. John Huss, depois de sua tradução da Bíblia para o tcheco, em seu tratado “Da Igreja”, distingue a instituição da igreja católica romana e a Igreja universal fundada por Jesus. Os dois foram declarados hereges, e John Huss, preso e torturado, morreu na fogueira em 6 de julho de 1415.
Simultaneamente, a difusão da Bíblia pela imprensa e o desenvolvimento do espírito crítico, graças ao humanismo, punham em evidência as contradições entre o Evangelho e a vida da Igreja. Em “Elogio da Loucura”, o humanista Erasmo de Roterdan, de forma irônica, opôs o comportamento dos papas Alexandre VI, o corrupto, de Júlio II, o guerreiro, e de Leão X, o mecenas, ao exemplo de Jesus.
Vários concílios reconheceram a necessidade de reformas e tentaram realizá-las. Em 1436, um cardeal, Juliano Cesarindo, proclamava a urgência de se reformar a Igreja no chefe e nos membros.
Exortações várias, reformas abortadas e condenações dos que protestavam, por heresias, só conseguiram mostrar melhor a situação intolerável da Igreja Católica Romana no século XVI e a necessidade indispensável de seu retorno imediato à simplicidade primitiva. A reforma que nasceria dessas reações, surgiu quase ao mesmo tempo em três lugares diferentes: na Alemanha, na Suíça e na França.
Continua no próximo post.