quinta-feira, 10 de abril de 2014

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 20.



Continuação do post anterior.
A Doutrina de Lutero.
Está exposta nos vinte e oito artigos da Confissão de Augsburgo, que Melanchton (teólogo, amigo de Lutero, que desejava sintetizar as idéias deste, mantendo a unidade da Igreja) apresentou à Dieta em 1530. Lutero a confirmou com a Apologia e com os Artigos de Esmalcalda. Lutero teve uma enorme produção literária, mais de cem fólhas na grande edição de Weimar, mas também revelou a sua poderosa originalidade e enervante profundidade. Apenas dois outros teólogos na história da Igreja, Agostinho e Tomás de Aquino, aproximam-se da estatura de Lutero.
A historiografia católica tradicional retrata Lutero como sendo um monge louco derrubando os pilares da Igreja mãe. Para os protestantes ortodoxos Lutero foi o cavaleiro divino, um Moisés, um Sansão (demolindo o templo dos filisteus!), um Elias, até mesmo o quinto evangelista ou um anjo do Senhor.
Longe de tentar fundar uma nova denominação, Lutero sempre viu a si mesmo como um fiel e obediente servo da Igreja. Daí seu profundo desgosto pelo fato de os primeiros protestantes, na Inglaterra e na França, assim como na Alemanha, terem sido chamados “luteranos”. Ele pediu que as pessoas não usassem o seu nome e se chamassem luteranas, mas cristãs. Ele dizia: “Quem é Lutero? O ensino não é meu. Não fui crucificado por ninguém. Como eu, miserável que sou cheguei ao ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome?”.    
A teologia de Lutero é fundada na Sagrada Escritura. É ela que é autoridade em matéria tanto de organização das igrejas, como de moral e de fé. Todo o homem nasce marcado pela queda original de Adão, transmitida a todos os seus descendentes. Depois, ele se tornou como árvore má: só pode produzir frutos maus. Tendo-se Deus se retirado dele, todas as suas ações só podem ser pecaminosas. Privado da vontade livre, o homem só realiza o bem ou o mal segundo o desígnio de Deus.
Mas a morte de Cristo na cruz por todos os homens assegura o perdão e a salvação aos que crêem nEle. O justo é salvo pela fé. Deus não vê mais os pecados de quem confia em seu amor manifestado pelo dom de seu Filho.
Consequentemente, não são os méritos dos homens, nem as missas, nem as peregrinações e outras práticas religiosas que salvam o pecador. Ele pode apenas reconhecer a misericórdia de Deus pela pureza de sua vida moral, em particular, nas funções que exerce.
A Igreja é comunidade espiritual cuja cabeça é Cristo. O único Mestre é Ele, e não o papa, que não tem nenhum título para se proclamar seu representante. Todos os fiéis são sacerdotes. Os ministros, delegados pela comunidade, presidem só a oração, a administração dos sacramentos e a pregação.
Há somente dois sacramentos: o batismo e a ceia, sinais que lembram as promessas de Deus e fortalecem a Fé.
Continua no próximo post.