Continuação do post anterior.
A Doutrina de Lutero.
Está exposta nos vinte e oito artigos da Confissão de
Augsburgo, que Melanchton (teólogo, amigo de Lutero, que desejava sintetizar as
idéias deste, mantendo a unidade da Igreja) apresentou à Dieta em 1530. Lutero
a confirmou com a Apologia e com os Artigos de Esmalcalda. Lutero teve uma
enorme produção literária, mais de cem fólhas na grande edição de Weimar, mas
também revelou a sua poderosa originalidade e enervante profundidade. Apenas
dois outros teólogos na história da Igreja, Agostinho e Tomás de Aquino,
aproximam-se da estatura de Lutero.
A historiografia católica
tradicional retrata Lutero como sendo um monge louco derrubando os pilares da
Igreja mãe. Para os protestantes ortodoxos Lutero foi o cavaleiro divino, um
Moisés, um Sansão (demolindo o templo dos filisteus!), um Elias, até mesmo o
quinto evangelista ou um anjo do Senhor.
Longe de tentar fundar uma nova
denominação, Lutero sempre viu a si mesmo como um fiel e obediente servo da
Igreja. Daí seu profundo desgosto pelo fato de os primeiros protestantes, na Inglaterra
e na França, assim como na Alemanha, terem sido chamados “luteranos”. Ele pediu
que as pessoas não usassem o seu nome e se chamassem luteranas, mas cristãs.
Ele dizia: “Quem é Lutero? O ensino não é
meu. Não fui crucificado por ninguém. Como eu, miserável que sou cheguei ao
ponto em que as pessoas chamam os filhos de Cristo por meu perverso nome?”.
A teologia de Lutero é fundada na
Sagrada Escritura. É ela que é autoridade em matéria tanto de organização das
igrejas, como de moral e de fé. Todo o homem nasce marcado pela queda original
de Adão, transmitida a todos os seus descendentes. Depois, ele se tornou como
árvore má: só pode produzir frutos maus. Tendo-se Deus se retirado dele, todas
as suas ações só podem ser pecaminosas. Privado da vontade livre, o homem só
realiza o bem ou o mal segundo o desígnio de Deus.
Mas a morte de Cristo na cruz por
todos os homens assegura o perdão e a salvação aos que crêem nEle. O justo é salvo pela fé. Deus não vê
mais os pecados de quem confia em seu amor manifestado pelo dom de seu Filho.
Consequentemente, não são os méritos
dos homens, nem as missas, nem as peregrinações e outras práticas religiosas
que salvam o pecador. Ele pode apenas reconhecer a misericórdia de Deus pela
pureza de sua vida moral, em particular, nas funções que exerce.
A Igreja é comunidade espiritual
cuja cabeça é Cristo. O único Mestre é Ele, e não o papa, que não tem nenhum
título para se proclamar seu representante. Todos os fiéis são sacerdotes. Os
ministros, delegados pela comunidade, presidem só a oração, a administração dos
sacramentos e a pregação.
Há somente dois sacramentos: o
batismo e a ceia, sinais que lembram as promessas de Deus e fortalecem a Fé.
Continua no próximo post.