quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A Inquisição - 04.

A INQUISIÇÃO - 04.
Continuação do post anterior.
O Juiz Heinrich Von Schulteis de Rhineland do século XVII, considerava a tortura agradável aos olhos de Deus. Ele chegou a cortar os pés de uma mulher e despejar óleo quente nas feridas abertas.
Agora, que opções tinham os réus? Pois eram torturados se necessário até a morte para confessar qualquer absurdo, e quando confessavam eram queimados vivos ou teriam a cabeça decepada entre outras formas brutais e malignas de se tirar uma vida.
Quanto ao réu não saber quem o acusou e acusou-o de que, isso era extremamente interessante para a igreja, porquê dessa maneira a igreja pegava qualquer pessoa que tivesse posses e a acusava de qualquer coisa, assim sendo, a pessoa seria condenada e todos os seus bens confiscados pela “Santa Igreja”. Falsas acusações, indulgências, pilhagens, saques tornaram a Igreja um Império Poderoso, tanto político quanto “espiritual”: o Vaticano um país dentro do território de outro país.
A arrogância clerical e os abusos de uma igreja corrupta se tornavam cada vez mais insuportáveis. No início do século XIII, o próprio Papa afirmava que os seus respeitados sacerdotes eram “piores que animais refocilando-se em seu próprio excremento”.
Pescadores de dinheiro e não de almas”, com mil fraudes para esvaziar os bolsos dos pobres, assim eram descritos os bispos da época. De acordo com o legado papal na Alemanha, eles reclamavam de que o clero em sua jurisdição só sabia se refestelar de luxo e gulodice, não respeitava jejuns, fazia transações comerciais, jogava e caçava. Eram enormes as oportunidades de corrupção, até para a realização de seus deveres oficiais exigiam dinheiro, casamentos e funerais sem pagamento adiantado não existia e antes de uma doação não se realizava comunhão, até mesmo os agonizantes ficavam sem seus últimos sacramentos caso algumas moedas não tilintassem no cofre. As famosas indulgências eram simplesmente uma renda extra.
Por ironia do destino, tempos depois, a igreja acusava a Ordem dos Cavaleiros Templários de toda a heresia possível, inclusive de homossexuais, mas esquecera-se que dentro da própria igreja toda essa heresia era um exemplo vivo, usurpadores, torturadores e também existiam os homossexuais. O próprio Arcebispo de Tours foi um homossexual notório que fora amante do seu antecessor e que exigiu na época que o bispado vagado de Orleans fosse concedido ao seu amante. Mas esse pequeno texto é apenas um detalhe, um livro bastante indicado é “A Inquisição” (Michael Baigent & Richard Leigh) entre outros, o que se torna bastante interessante quando comparamos.
Segundo o maior poeta lírico alemão da Idade Média (os livros alemães são importantes, mas raros e quase ninguém tem acesso), Walther Von der Vogelweide (1170-1230): “Por quanto em sono jazereis, Ó Senhor?...Vosso tesoureiro furta a riqueza que haveis armazenado. Vosso ministro rouba aqui e assassina ali, E de vossos cordeiros como pastor cuida um lobo”.
Em novembro de 1207, o Papa Inocêncio III escreveu ao Rei da França e a vários nobres do alto escalão francês, obrigando-os a suprimir os “hereges” em seus domínios pela força militar, em troca recebiam variáveis recompensas, desde absolvição de seus pecados e vícios, liberação de pagamento de todo juro sobre suas dívidas, isenção da Jurisdição dos Tribunais Seculares, além é claro de todas as vantagens explícitas ainda recebiam permissão para saquear, roubar, pilhar e expropriar propriedades. Sendo assim, surgiram batalhas uma após a outra, massacres, que segundo a Igreja eram conhecidos como “Guerra Santa” em nome de Deus, mas de um Deus que somente essa igreja conhecia e se beneficiava da sua proteção.
Assim teve início a Inquisição em pleno tumulto da Idade Média por um decreto papal de 1233 que oficializava a lei do Vaticano. Nos cinco séculos seguintes essa temível instituição continuaria consumindo o que ela julgava como inimigos da igreja, heréticos ou feiticeiros às centenas de milhares.

Continua no próximo post.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A Inquisição - 03.
 Continuação do post anterior.
A tortura e o temor distorciam a verdade, vizinhos acusavam-se mutuamente, cristãos denunciavam companheiros de religião, crianças testemunhavam contra os próprios pais, era família contra família, esposas delatavam seus maridos, camponeses voltavam-se contra seus senhores, foi um reinado de horror, no qual eram forçados a delatar uns aos outros.
Numa cidade do norte da França chamada Arras, um grande centro manufatureiro, um pobre ermitão foi condenado a ser queimado como bruxo. Tentando escapar da tortura, ele prontamente denunciou uma prostituta e um velho poeta até então mais conhecido por seus poemas à Virgem Maria. Estes dois, por sua vez, acusaram outras pessoas e logo começaram as fogueiras. E a Igreja foi a principal responsável pelas mudanças na atitude das pessoas e na política oficial que resultaram numa grande carnificina.
Os métodos para se extrair confissões não eram nada agradáveis, as pessoas não tinham benefício de um júri e também não tinham permissão de confrontar seus acusadores, aliás nem chegavam a saber a identidade de seus delatores. As confissões eram extraídas de todas as maneiras possíveis, já que nos termos da lei canônica os réus só seriam condenados mediante confissão. Um exército de torturadores trabalhava diligentemente para atingir esse objetivo. O quê certamente conseguia. A Inquisição usava como método de obtenção de confissão a tortura e em alguns casos ao extremo, levando o torturado à morte.
Segundo Enry Thomas, grande historiador norte-americano, poderia ser escrito um livro somente sobre as torturas empregadas pela inquisição, embora nada agradável:
O prisioneiro, com as mãos amarradas para trás, era levantado por uma corda que passava por uma roldana, e guindado até o alto do patíbulo ou do teto da câmara de tortura, em seguida, deixava-se cair o indivíduo e travava-se o aparelho ao chegar o seu corpo a poucas polegadas do solo. Repetia-se isso várias vezes. Os cruéis carrascos, as vezes amarravam pesos nos pés das vítimas, a fim de aumentar o choque da queda.“
Depois havia a tortura pelo fogo. Colocavam-se os pés da vítima sobre carvão em brasa e espalhava-se por cima uma camada de graxa, a fim de que este combustível estalasse ao contato com o fogo."
De acordo com a lei, tortura só podia ser infligida uma vez, mas essa regulamentação era burlada facilmente...quando desejavam fazer repetir a tortura, mesmo depois de um intervalo de alguns dias, infringiam a lei, não alegando que fosse uma repetição, mas simplesmente uma continuação da primeira tortura....
Uma das experiências mais chocantes que podemos viver é visitar um museu que expõe os instrumentos de torturas usados na Idade Média. É como entrar numa câmara de horrores. É quase impossível acreditar que aqueles objetos eram usados para ferir as pessoas. Aliás, visitar museus que expõem instrumentos de torturas de qualquer época histórica e de qualquer região do mundo é sempre uma experiência muito dolorosa, porquê nos depara com a crueldade humana elevada a altíssima potência. São pessoas abusando de seu poder para ferir outras pessoas que não podem se defender. A tortura é a expressão máxima da covardia humana, por isso é tão doloroso lidar com esse assunto.

Continua no próximo post.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A Inquisição - 2.

Continuação do post anterior.
A seita denominada Valdenses – por causa do seu maior expoente, Peter Valdo, que traduzira o Novo Testamento sem autorização – foi alvo de perseguição por parte da Igreja mesmo antes de a Inquisição ter realmente começado. A Inquisição perseguiu os Valdenses, cujos pregadores itinerantes faziam votos de pobreza, por quase todos os cantos da Europa. Típico foi o destino dos adeptos que buscaram refúgio nos Alpes franceses, a inquisição cercou-os acusando-os injustamente de invocarem demônios, provocarem tempestades, comerem carne humana e envolverem-se com outros procedimentos heréticos, o pouco que se sabe, 110 mulheres e 57 homens haviam sido condenados e queimados vivos.
Quem cometesse erros na interpretação das sagradas escrituras, quem criasse uma nova seita ou aderisse a uma seita já existente, quem não aceitasse a doutrina Romana no que se refere aos sacramentos, quem tivesse opinião diferente da igreja de Roma sobre um ou vários artigos de Fé e quem duvidasse da fé Cristã de Roma, todos eram torturados barbaramente.
Sorrir era proibido! O tom sério afirmou-se como a única forma de expressar a verdade e tudo que era importante e bom. O riso, por sua vez, era visto como o oposto: a expressão do que era mau (pecado). O riso foi declarado como uma emanação do diabo. O cristão deveria conservar a seriedade sempre, para demonstrar seu arrependimento e a dor que sentia na expiação dos seus pecados. É interessante notar que nas histórias infantis medievais essa articulação entre bem e seriedade, mal e riso é fortemente representada. A mocinha que é boa sofre sempre e é tristonha; a bruxa ou feiticeira que é má está sempre dando gargalhadas. Certamente que, seguindo o raciocínio moral da Idade Média, no final da história o sofrimento será recompensado e o riso castigado.
Haveria um tempo em que qualquer bispo católico, no lugar de deter-se para salvar vidas, estaria enviando centenas delas para a morte.
Mas, até mesmo os clérigos não eram poupados, muitos eram acusados de envolvimento com práticas ocultas mais elevadas, todo o costume que fugisse da tradição da Igreja era comparado a heresia. Época na qual “reinava” a ignorância, poucos eram os que sabiam ler e escrever, privilégios de alguns ricos, nobres, escalões da igreja e certamente clérigos, sendo assim um clérigo era capaz de ler os antigos livros de magia que circulavam sutilmente entre os chamados heréticos.
Mesmo nos níveis mais altos da hierarquia eclesiástica e às vezes até nos altos escalões, ninguém estava a salvo dos raios fulminantes da inquisição. Frei Guillaume Adeline era prior de um importante monastério em Saint-Germaine-em-Laye, era também renomado doutor de teologia, ele foi acusado de prática de feitiçaria. Os inquisidores alegaram que fora encontrado com ele um pacto por escrito com o demônio. Para um intelectual de seu porte, mesmo em uma situação de intensa dor e alto risco, as ofensas que foi obrigado a admitir devem ter parecido ironicamente ridículas: manter relações sexuais com um súcubo, voar montado numa vassoura, beijar o ânus de um bode. O Frei Guillaume Adeline foi queimado vivo.

Continua no próximo post.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

A Inquisição 01.

A Inquisição - I.

 Estamos iniciando uma série de mensagens para mostrar o que foi a chamada "Santa Inquisição". Não é um trabalho original, mas resultante de pesquisa na Internet. 
Mesmo antes de oficializada a Inquisição, a mesma já se fazia presente em pleno tumulto da Idade Média.   Através da Europa marchavam os chamados “demônios da heresia” arrebanhando adeptos e, segundo a Igreja de Roma, perturbando a ordem. Mas, muitos desses "heréticos" eram simples clérigos e bem-intencionados que desejavam reformar o que considerava excessivo dentro da Igreja, desejavam a volta à piedade humilde de Jesus e seus discípulos, enquanto o Vaticano cercado de uma Pompa Imperial, tamanho poder político e “poder espiritual” gastava energia envolvendo-se em intrigas da corte.
Para os reformistas que consideravam a pompa da igreja dispensável e acreditavam que o Reino de Deus estaria no coração de cada um, a Igreja deu o seu recado: organizou o primeiro grande Tribunal Público Medieval contra a heresia em Orleans em 1022. Os réus? Evidentemente os reformistas que pregavam dizendo aos quatro cantos do mundo que, para encontrar Deus não seria necessário um Templo de Pedras, cheio de ídolos, muito menos a pompa Imperial da Igreja.
Em inúmeros Tribunais Civis e nas temidas cortes da Inquisição, a acusação era sinônimo de condenação e a condenação uma sentença de morte das mais variadas formas; flageladas e mutiladas pelos torturadores, a carne dilacerada e os ossos quebrados, as vítimas confessavam coisas absurdas; os que tivessem sorte seriam decapitados ou mortos de maneira relativamente mais comum antes que seus corpos fossem reduzidos a cinzas em fornos. E os demais, queimados vivos e em fogueira de madeira verde para que a agonia se prolongasse.
Os inquisidores estavam ali enquanto o fogo martirizava a vítima, e incitavam-na, "piedosamente", a aceitar os ensinamentos da "Igreja" em cujo nome ela estava sendo tratada tão "delicadamente" e tão "misericordiosamente". Para que houvesse um contraste com a tortura pelo fogo, também praticavam a da água:
Amarrando as mãos e os pés do prisioneiro com uma corda trançada que lhe penetrava nas carnes e nos tendões, abriam a boca da vítima a força despejando dentro dela água até que chegasse ao ponto de sufocação ou confissão.”
Todas as imaginações bárbaras do espírito de Dante, quando descreveu o Inferno, foram incorporadas em máquinas reais que cauterizavam as carnes, esticavam os corpos e quebravam os ossos de todos aqueles que recusavam crer na "branda misericórdia" dos inquisidores.
Foi uma verdadeira passagem de terror, que durou aproximadamente 300 anos ceifando a vida de milhares de inocentes que não tiveram nem a opção de lutar pela sua própria liberdade de expressão. Esse frenesi de ódio e homicídio alastrou-se como fogo em diversos lugares incendiando a vida civilizada; França, Itália, Alemanha, Espanha, Países Baixos, Inglaterra, Escócia, Áustria, Noruega, Finlândia, Suécia e por um breve período, saltaria o Atlântico inflamando até o Novo Mundo.

Continua no próximo post.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A Era da Reforma Protestante - 04.

A Revolta dentro da Igreja.
A Aurora da Reforma – As condições anteriormente descritas deram origem a duas revoltas que a Igreja não conseguiu evitar, nos séculos 14 e 15.
João Wycliff – O espírito do nacionalismo que vinha se desenvolvendo na Inglaterra preparou o caminho para a obra de Wycliif. A Inglaterra pelos seus reis, pelo seu parlamento, e até pelos seus bispos já resistira à interferência papal nos negócios da igreja inglesa. Wycliif (nascido entre 1320 e 1330), era considerado o homem mais culto e mais destacado da Universidade de Oxford. Além disso ele também era padre em Lutterworth, quando alcançou a extrema simpatia das classes pobres. Sua primeira investida foi contra o suposto direito do papa de cobrar impostos e taxas na Inglaterra. O cisma papal muito contribuiu para espalhar os pontos de vista de Wycliif. Denunciou o papado e toda a organização clerical sustentando que não devia haver distinção de classes entre o clero. Indo além negou que houvera fundamento bíblico para a doutrina da Transubstanciação, adotada, então, pela Igreja.
Por causa dos seus ensinos, Wycliif foi condenado por um Concílio eclesiástico. Diante disso fez o seu grande apelo ao povo inglês. Em muitos tratados escritos em linguagem acessível ao povo comum atacou todo o sistema da Igreja e declarou que a Bíblia é a única e verdadeira regra de fé e prática. Surgiu então o seu maior trabalho, a tradução da Bíblia, da Vulgata (versão em latim) para o inglês. Foi assim que Wycliif e seus auxiliares, os homens mais cultos de Oxford abriram a Bíblia ao povo da Inglaterra pela primeira vez. Para espalhar entre o povo a Bíblia e seus ensinos, ele organizou a ordem dos “sacerdotes pobres” conhecidos como os “Irmãos Lollardos”, muitos dos quais eram estudantes de Oxford. A maioria porém, era constituída de gente simples de sua paróquia. Usando roupas grosseiras, andando muitas vezes descalços e de cajado na mão, dependendo de esmolas para o seu sustento, percorriam toda a Inglaterra. Conduziam manuscritos dos tratados de Wycliif, sermões e trechos bíblicos e pregavam por toda a parte. Esse movimento cresceu de modo extraordinário e se constituíram numa força poderosa na disseminação da religião evangélica.
Embora miseravelmente perseguidos, continuaram sua obra até o tempo da Reforma. Quando seus missionários já enchiam as estradas, chegou ao fim a vida de Wycliif. Era tão forte a sua posição na Inglaterra que as autoridades eclesiásticas nada fizeram contra ele, além de classificá-lo como herege. E assim morreu em paz em sua paróquia.
João Huss – Foram os ensinos de Wycliif que deram origem a uma revolta maior, chefiada por João Huss (1373-1415), contra a Igreja papal. Huss era muito culto e exercia poderosa influência na Universidade de Praga, além de ser padre. Era um grande pregador dessa cidade, onde se tornou o porta-voz nacional dos anseios políticos e religiosos do seu povo. Huss expressou com muito vigor a determinação que o povo tinha de manter os seus direitos contra os alemães e o seu forte protesto no sentido de que o clero imoral e de atitude afrontosa à Boêmia, fosse reformado. Conhecedor profundo de sua gente e por ela respeitado e estimado, em virtude da sua vida de pureza e caráter sincero, possuidor de uma eloqüência incomum, tornou-se um poderoso líder nacional.
De posse dos livros de Wycliif, avidamente bebeu-lhe as idéias. Ensinando as doutrinas de um “herege”, rapidamente entrou em conflito com os chefes da Igreja papal. Defendeu o seu direito de pregar a verdade de Cristo como a sentia e entendia. Foi excomungado pelo seu “desafio” ao papa João XXIII em 1412. Escreveu no seu livro mais importante, que o Novo Testamento, chamado por ele de “Lei de Cristo” era o guia suficiente para a Igreja e que o papa só podia ser obedecido até onde suas ordens coincidissem com essa lei divina. Foi então julgado pela Igreja em Constança. O seu julgamento foi uma farsa e um escárnio. Esse mesmo Concílio também condenou o pároco João Wycliif, morto havia trinta anos, como um herege. Assim o caso Huss foi logo decidido pela Igreja papal. Protestando a sua fidelidade à Cristo e desprezando a liberdade que lhe ofereciam em troca do abandono de seus princípios, foi condenado à morte na fogueira, onde morreu queimado vivo.

A ira e a revolta dos boêmios pelo assassinato do seu líder e herói nacional, não tiveram limites. Levantou-se um grande partido que iniciou a guerra pela independência. Derrotaram o imperador alemão. Devastaram parte da Alemanha e perturbaram grandemente os negócios da Europa em geral. Depois dessa revolta de caráter político, apareceram os “Irmãos Boêmios”, uma poderosa organização religiosa que não pertencia à Igreja, cuja atividade empolgou toda a Boêmia e a Morávia, como também algumas regiões da Alemanha, com o seu “Cristianismo Evangélico”. Em outras partes da Europa, o martírio de Huss fortaleceu o espírito de revolta contra a Igreja papal.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A Era da Reforma Protestante - 03.

Continuação do post anterior.
3 - A Queda do Papado.
Bonifácio VIII – Em 1294, depois de o papado ter sofrido alguma perda de influência durante os fracos pontificados de alguns papas, Bonifácio VIII subiu ao trono. Seu propósito era ser o governo supremo da Europa, tanto temporal como espiritual, isto é, queria ser Imperador e Papa. Durante as festas do jubileu do ano 1300 fez questão de ser visto por milhares de peregrinos, sentado num trono com a coroa e a espada de Constantino, exclamando: “Sou o César, sou o Imperador”. Quando porém, tentou por as suas ideias em prática, defrontou-se com dois reis poderosos: Eduardo I da Inglaterra e Felipe, o Belo, da França. Fortes e garantidos pela unidade de suas nações, esses monarcas conseguiram afastar o papa dos negócios internos de suas nações. A disputa girava sobre o direito do rei cobrar impostos sobre as propriedades da Igreja, mas evoluiu para a polêmica sobre se seria a Igreja ou a nação quem devia governar o território nacional. Bonifácio VIII protestou, lutou, mas teve de ceder. Mais tarde envolveu-se em outra contenda com Felipe. Bonifácio defendeu a supremacia papal e ameaçou depor Felipe do trono. Em resposta, Felipe mandou uma força armada para prender o papa. E, de fato, o papa foi preso em Anagni. Depois de três dias foi solto e voltou a Roma, morrendo logo depois (1303), desgostoso por causa de sua vergonhoso e repentina queda. O poder que governara o mundo fora publicamente envergonhado e ninguém levantou a mão para defendê-lo, As nações estavam unidas e fortalecidas pelo sentimento nacionalista.
O “Cativeiro Babilônico” do papado – O papado estava agora sob o domínio do rei da França. Isso foi publicamente declarado em 1309, pois o papa havia estabelecido o seu trono em Avinhão, no Reno, em território francês. Aqui no seu cativeiro babilônico, o papado permaneceu por 68 anos. Durante esse tempo ele perdeu prestígio no pensamento e na consciência da Europa. O simples fato de mudar-se de Roma constituiu uma queda irreparável de autoridade e grande parte dessa perda de autoridade resultou da notória imoralidade da corte papal em que alguns dos papas foram os primeiros a darem os piores exemplos. A Europa gemia debaixo das contínuas extorsões e explorações de toda sorte.
O Grande Cisma – Como se o cativeiro não fosse o bastante, surgiu o grande cisma do papado. Forçado pela exigência da opinião pública, o papa Gregório XI, em 1377, voltou à Roma. Pouco tempo depois da eleição do seu sucessor, em 1378, outro papa rival foi eleito pelos cardeais franceses e levado à corte em Avinhão. Por mais de trinta anos houve dois papas, um em Avinhão e outro em Roma. Algumas nações reconheciam o papa de Roma e outras o papa de Avinhão. A contenda e a discórdia dominavam toda a Igreja. Até que os cardeais de ambos os papas convocaram um Concílio Geral para acabar com o Cisma. Esse Concílio se reuniu em Pisa em 1409 e escolheu um novo papa. Todavia, como os dois papas já existentes se recusaram a renunciar, permaneceram três papas. Cinco anos depois convocou-se outro Concílio em Constança, o qual depôs dois deles e persuadiu o terceiro a renunciar, terminando assim o Cisma, com a eleição de Martinho V, que foi reconhecido por toda a Igreja. Segue-se uma sucessão de papas que foram também políticos astutos e bons administradores, razão por que recobraram para o papado algum respeito e autoridade. Mas, o papado jamais voltou a ser o que era antes.
Continua no próximo post.