quarta-feira, 29 de abril de 2015

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 24.


A Reforma na França com João Calvino.

Continuação do post anterior.

Várias analogias aproximam o reformador francês de Lutero.

Em primeiro lugar, a situação da Igreja. Apesar de diferentes, os abusos não eram menores na França do que na Alemanha e diziam respeito aos costumes e principalmente ao escândalo da distribuição e do acúmulo de benefícios eclesiásticos.
Em seguida o papel do humanismo. Calvino foi muito influenciado pelo humanista alemão Melchior Vollmar, que lhe ensinou o grego e o hebraico. Mas toda a atmosfera do tempo era impregnada de humanismo e de reformismo. Seu guia foi Lefèvre d”Etaples, cujo comentário sobre as epístolas de Paulo (1512) e cuja tradução francesa dos evangelhos (1523) iniciaram uma reforma pacífica, bem aceita até na corte de Margarida de Anguleme
Calvino está próximo de Lutero ainda por semelhança de vida familiar e de educação. Como Lutero, era filho de uma mãe devota e de um pai rigoroso. Como Lutero conheceu a rigidez doutrinal no Colégio de Montaigu.
Ambos tem doutrina que converge no essencial: o fundamento do cristianismo é a Escritura . È ela que é a autoridade. O Evangelho é o centro da vida cristã. O cristão não tem outra certeza senão a segurança da graça de Cristo.
O Calvinismo. Todavia, por causa do contexto da França e de Basiléia, e da influência de Melanchton e Zuínglio, o calvinismo difere do luteranismo em três pontos importantes. - Durante muito tempo Calvino esperou e desejou uma reforma interna da Igreja.
De espírito mais lógico do que Lutero, Calvino centrou a religião cristã em Deus _Pai, Filho e Espírito Santo – soberanamente livre. A salvação vem só dEle. É o que se chama predestinação. Que o pecador, seja salvo ou não, não depende do homem, que é incapaz disso. A livre graça de Deus só pode vir de sua providência.
Não existe teologia abstrata e intemporal, válida em todos os lugares e tempos. Ela não é algo absoluto, mas relativo: uma procura, às apalpadelas, da verdade de Deus, com relação as comunidades historicamente situadas. A teologia se enraíza na experiência dos cristãos e alimenta sua vida. É a idéia muito moderna da livre pesquisa teológica.
Na mesma linha de nexo entre a teologia e a história, a originalidade do pensamento calviniano reside na reflexão sobre as relações entre religião e a política. O Estado se insere no plano de Deus e é um dos instrumentos da Providência divina. Isto significa que sua função é realizar a justiça neste mundo. Conseqüentemente o cidadão cristão tem o dever de submissão às autoridades justas do Estado e de desobediência à tirania.
Por duas vezes as circunstâncias levaram Calvino a por em prática essa doutrina em Genebra. Em 1536 foi retido pelo reformador G. Farel. Em 1541, foi chamado pelos próprios genebrinos. Em quatro artigos organizou ele a disciplina religiosa dos fiéis genebrinos e também uma espécie de tribunal e de polícia de costumes, para transformar Genebra em “cidade igreja” e os genebrinos em ascetas. Sob a direção do Consistório, Genebra se tornou refúgio para os reformados e como que “a Roma do Protestantismo”. Assim, o amor intransigente à verdade, mudou o reformador religioso e político em inquisidor intolerante e implacável. A perseguição e o martírio de Miguel Servet mostram que, depois de ter defendido os mártires da reforma, o reformador foi carrasco de um novo reformador.
Resta a obra de Calvino: cinqüenta e nove volumes escritos por ele e uma doutrina sólida e original, enraizada na organização das igreja reformadas da França, voltadas para a unidade cristã.

Continua no próximo post.