quarta-feira, 27 de maio de 2015

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 26.


Igreja Cristã Copta.
Tudo teve início com a pregação de São Marcos no Egito. Foi ele o fundador da primeira Igreja cristã no norte da África. Daquela primeira comunidade se desenvolveu a Igreja dos “coptas”, do nome árabe para os egípcios (“qubte”). Uma Igreja da colméia da Ortodoxia, mas que se distingue por ser “monofisita”, isto é, defendendo uma só natureza para o Cristo (desacordo que tem muito de mal entendido de vocabulário e de hábito histórico de viver isolada). Desta Igreja dos “egípcios”, nasceu a Igreja dos etíopes por volta do ano 640., que se tornou autônoma (“autocéfala”) em 1948. Da Igreja copta etíope se destacou a Igreja copta da Eritréia em 1993.
Hoje os coptas no Egito são estimados entre 10 e 15 milhões, sob a direção do Papa Shenuda III, que vive no Cairo e é o 117o Patriarca, depois de São Marcos. Na Etiópia, eles chegam a 32 milhões, e Patriarca é o Abuna Paulos. Na Eritréia são 2 milhões, e seu Patriarca Antonios está em prisão domiciliar, por força do regime político ditatorial. No seu lugar foi colocado Abuna Dioskoros, não reconhecido pelas outras Igrejas da Ortodoxia.
Se os coptas são minoria, freqüentemente perseguida no Egito e na Eritréia, onde a maioria da população é muçulmana, na Etiópia é a Igreja nacional, contando com fervorosa adesão da massa da população. No Egito há cerca de 200 mil coptas unidos plenamente à Igreja Católica. Em São Paulo, no ano passado, foi aberta a primeira Igreja do rito copta, com a presença do Arcebispo católico, Dom Odilo. Na Etiópia os católicos são apenas 1% da população, menos ainda na Eritréia.
Jejum: um assunto sério. Para os coptas, o jejum é uma prática importantíssima. Durante o dia de jejum, nada se pode comer desde o amanhecer até o pôr-do-sol. Depois, não é permitido tomar nenhum alimento de origem animal (carne peixe, frango, ovos, leite, etc.). Há cerca de 210 dias de jejum por ano! Os coptas jejuam todas as quartas e sextas. Além disto, guardam jejum na semana antes da Quaresma e durante os 40 dias da mesma (47 dias no total): é o “Grande Jejum”. Há outros períodos longos de jejum: no Advento. O dos Apóstolos, o da Santíssima Virgem e o de “Niniveh”.
A peregrinação ao lugar santo de Lalibela. Os coptas da Etiópia consideram Lalibela uma cidade santa, querida por um rei e construída por anjos. Os turistas a reconhecem como uma maravilha arquitetônica e uma ilha de espiritualidade. Lalibela é um lugar fascinante com suas onze esplêndidas igrejas escavadas na rocha. Hoje continua a ser meta de peregrinação de milhares de fiéis. Há alguns anos os turistas começaram a vir visitá-lo em grande número. Contudo, o tempo avariou as magníficas igrejas. Por isso a UNESCO cobriu 5 delas, permitindo obras de restauração, que devem durar 15 anos. Deste modo, Lalibela recuperará seu antigo esplendor.
Os coptas tem uma TV. Ela se chama “Aghapy”, que quer dizer “amor incondicionado” (“ágape”), e é a TV dos coptas do Egito, com sede no Cairo. A transmissão é feita via satélite, por um sistema norte-americano, atingindo também os coptas residentes na Europa e Estados Unidos. O sistema permite também certa segurança contra atentados dos fundamentalistas islâmicos. Os programas têm conteúdo religioso e visam a família: celebrações, documentários, programas formativos, etc.
Há quem diga que chegam a dois milhões os peregrinos ao mosteiro de Gabal Durunka ao sul de Assuã, no Egito, por ocasião da festa da Assunção, em agosto. São coptas, coptas católicos e também muçulmanos. A devoção destes à Mãe de Jesus é conhecida. O Alcorão lhe dedica um capítulo (“sura”). Para eles, Issa, Jesus, é um grande profeta.
A presença de tantos muçulmanos é surpreendente, porque o relacionamento entre coptas e islamitas, no Egito, têm sido, nos últimos anos, marcado por conflitos e episódios de violência. Mas, quando se trata de devoção popular, entram em cena mecanismos psicológicos profundos, que fazem cair barreiras. Assim acontece que comunidades divididas e desconfiadas mutuamente se unem na prece.
Uma liturgia e duas línguas. Até hoje, no Egito, os cristãos usam a língua copta (derivada do antigo egípcio do tempo dos faraós) na liturgia. Não tem nenhum parentesco com o árabe, língua semítica. É escrita em caracteres gregos, da esquerda para a direita, sem deixar espaço entre as palavras. Integra alguns símbolos gráficos próprios. O copta foi a língua nacional egípcia do século III, época da conversão ao cristianismo da maioria da população, até o século XII, quando a invasão muçulmana determinou o uso generalizado da língua árabe e a mudança de religião, deixando em pouco tempo o Islã como majoritário.
Na Etiópia e na Eritréia a liturgia utiliza o gehez, uma antiga língua semítica, inicialmente falado pela população, depois tornado língua da corte imperial, e que é raiz de várias línguas atuais, como o amárico, o tigrino e o tigrê. Hoje, como o latim, o gehez é língua morta, mas é usada liturgicamente pelos coptas, católicos e os “beta Israel” (etíopes hebreus).
A Arca da Aliança estará sob a guarda dos coptas na Etiópia? Segundo uma antiga tradição conservada no sagrado Kebra Nagast, O Livro do Rei, a Arca da Aliança do Monte Sinai, onde se guardavam as Tábuas da Lei (os Dez Mandamentos), teria sido confiada por Salomão a Menelik, seu filho com a Rainha de Sabá. O clero copta etíope sustenta que ela está sob custódia numa capela do mosteiro de Maryon Sion em Axum. Não se pode verificar esta tradição, pois apenas o guardião tem permissão de vê-la.

Na Eritréia: o patriarca copta está prisioneiro. O Abuna Antonios é o terceiro Patriarca da Igreja copta da Eritréia. El epagou caro sua oposição atos despóticos do ditador Isayas Afeworki. Na Eritréia não existem partidos políticos de oposição, a sociedade está sob dura repressão e a atitude do Patriarca defendendo a liberdade da Igreja contra a intromissão do ditador e denunciando as violações dos direitos pelo regime causou espanto. Mas não se imaginava que o ditador tivesse a ousadia de afrontar a Igreja e chegasse, como chegou, a prender cerca de cem sacerdotes e colocar o Patriarca em prisão domiciliar, impondo um outro “patriarca”, o Abuna Dioskoros. A “eleição” de Dioskoros não foi reconhecida pelas Igrejas ortodoxas irmãs, e Antonios é o único autêntico chefe da Igreja copta da Eritréia, embora preso e muito enfermo.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Os Grandes Cismas do Cristianismo - 25.


Continuação do post anterior
As Cruzadas
Atendendo ao apelo do papa Urbano II, em 1095, foram organizadas na Europa expedições militares conhecidas como Cruzadas, cujo objetivo oficial era reconquistar os lugares sagrados do cristianismo (Jerusalém, por exemplo) que estavam em poder dos muçulmanos.
Entretanto, além da questão religiosa, outras causas motivaram as cruzadas: a mentalidade guerreira da nobreza feudal européia, canalizada pela Igreja contra inimigos externos do cristianismo (os muçulmanos); e o interesse econômico de dominar importantes cidades comerciais do Oriente.
De 1096 a 1270, a cristandade européia organizou oito cruzadas, tendo como bandeira promover guerra santa contra os infiéis muçulmanos.

Cerco de Constantinopla. Por sete séculos Constantinopla permaneceu firme como a rocha da Europa Cristã, na qual a maré irresistível do Islamismo batia em vão. Mas ela estava destinada a cair afinal, exausta, na terça-feira, 29 de maio de 1453. O fundador do islamismo tinha previsto que um dia a grande cidade cairia nas mãos de seus seguidores. Essa profecia foi cumprida pelos turcos, que receberem o Islã dos árabes, e prosseguiram na missão de espalhar o Islã além fronteiras pela conquista e dominação das nações.

O Império Bizantino estava em trágica posição na época da queda, após ter guerreado por mil anos com inimigos bárbaros de todos os lados. Os sessenta anos de governo latino em Constantinopla tinham minado seriamente suas bases; e as contínuas invasões turcas tinham dimunuido o Império por todos os lados reduzindo-o a um reino de humildes dimensões. Mohamed II, que era apelidado de "o conquistador," cercou a capital com um exército fanático de 250.000 homens, contra cerca de 7.000 soldados cristãos reunidos em torno do último Imperador Constantino Paleólogo. Constantino foi ousado o suficiente para dar uma digna resposta ao seu poderoso inimigo que pedia uma rendição pacífica da cidade: "Dar a cidade para ti não está em meu poder, nem no poder de nenhum homem que habita aqui; pois temos um acordo e todos nós preferimos morrer, e não pouparemos nossas vidas”.

As Últimas Horas de Constantinopla. Quando Constantino constatou que a destruição era inevitável, colocou a si e a sua cidade nas mãos de Deus e preparou-se para morrer como um mártir. Ele primeiro ordenou que uma “litania” deveria ser cantada através de toda a cidade. E bispos, padres, monges, homens, mulheres e crianças, todos se juntaram a procissão chorando e clamando: "Senhor, tem piedade e salva a Tua herança!" Então, Constantino dirigiu aos homens que estavam ao redor dele, comovedoras palavras, incentivando-os a enfrentar a morte com a coragem dos mártires; e todos clamavam: "Sim, morramos pela fé em Cristo e pela terra de nossos pais."

O Imperador foi para a igreja de Santa Sofia para tomar sua última comunhão; então, subindo ao portão de Romanus, começou a dirigir a desesperada defesa. Mas foi subitamente cercado pelo inimigo e morto. Logo depois, a cidade estava sendo saqueada. Os homens eram degolados, e as jovens eram levadas em cativeiro; os Vasos Sagrados eram usados como copos comuns para as selvagens orgias dos turcos vitoriosos; e o conquistador cavalgou arrogantemente para dentro da Catedral de Santa Sofia, e transformou-a numa mesquita muçulmana.

O Significado da Queda de Constantinopla. A queda de Constantinopla marcou o colapso do último baluarte do Cristianismo Oriental e sua civilização. Outras províncias rapidamente compartilharam seu destino; a Sérvia caiu em 1459, o Peloponeso em 1459, Trebizond em 1461, Bósnia em 1463, Albânia em 1467 e Herzegovina em 1483.

Esse evento histórico teve grandes conseqüências e ensinou importantes lições. Abriu um poço de vida intelectual para a Europa, pois eruditos fugitivos de Constantinopla assentaram-se no Ocidente e semearam sementes da Renascença e da Reforma. E do ponto-de-vista religioso, a queda de Constantinopla causou uma forte manifestação de fervor religioso. Grande foi a queda deles, mas também grande sua esperança consoladora. No momento em que os turcos entraram na Catedral de Santa Sofia, (assim diz uma tradição popular largamente espalhada), a Divina Liturgia estava sendo celebrada, e os padres chocados em horror foram congelados como mármore em seus lugares. Mas um dia chegará quando a bela cidade será restituída ao Cristianismo; e então os padres de mármore terão vida novamente e terminarão sua Liturgia interrompida.

Continua no próximo post