Continuação
do post anterior.
A
seita denominada Valdenses – por causa do seu maior expoente, Peter
Valdo, que traduzira o Novo Testamento sem autorização – foi alvo
de perseguição por parte da Igreja mesmo antes de a Inquisição
ter realmente começado. A Inquisição perseguiu os Valdenses, cujos
pregadores itinerantes faziam votos de pobreza, por quase todos os
cantos da Europa. Típico foi o destino dos adeptos que buscaram
refúgio nos Alpes franceses, a inquisição cercou-os acusando-os
injustamente de invocarem demônios, provocarem tempestades, comerem
carne humana e envolverem-se com outros procedimentos heréticos, o
pouco que se sabe, 110 mulheres e 57 homens haviam sido condenados e
queimados vivos.
Quem
cometesse erros na interpretação das sagradas escrituras, quem
criasse uma nova seita ou aderisse a uma seita já existente, quem
não aceitasse a doutrina Romana no que se refere aos sacramentos,
quem tivesse opinião diferente da igreja de Roma sobre um ou vários
artigos de Fé e quem duvidasse da fé Cristã de Roma, todos eram
torturados barbaramente.
Sorrir
era proibido! O tom sério afirmou-se como a única forma de
expressar a verdade e tudo que era importante e bom. O riso, por sua
vez, era visto como o oposto: a expressão do que era mau (pecado). O
riso foi declarado como uma emanação do diabo. O cristão deveria
conservar a seriedade sempre, para demonstrar seu arrependimento e a
dor que sentia na expiação dos seus pecados. É interessante notar
que nas histórias infantis medievais essa articulação entre bem e
seriedade, mal e riso é fortemente representada. A mocinha que é
boa sofre sempre e é tristonha; a bruxa ou feiticeira que é má
está sempre dando gargalhadas. Certamente que, seguindo o raciocínio
moral da Idade Média, no final da história o sofrimento será
recompensado e o riso castigado.
Haveria
um tempo em que qualquer bispo católico, no lugar de deter-se para
salvar vidas, estaria enviando centenas delas para a morte.
Mas,
até mesmo os clérigos não eram poupados, muitos eram acusados de
envolvimento com práticas ocultas mais elevadas, todo o costume que
fugisse da tradição da Igreja era comparado a heresia. Época na
qual “reinava” a ignorância, poucos eram os que sabiam ler e
escrever, privilégios de alguns ricos, nobres, escalões da igreja e
certamente clérigos, sendo assim um clérigo era capaz de ler os
antigos livros de magia que circulavam sutilmente entre os chamados
heréticos.
Mesmo
nos níveis mais altos da hierarquia eclesiástica e às vezes até
nos altos escalões, ninguém estava a salvo dos raios fulminantes da
inquisição. Frei Guillaume Adeline era prior de um importante
monastério em Saint-Germaine-em-Laye, era também renomado doutor de
teologia, ele foi acusado de prática de feitiçaria. Os inquisidores
alegaram que fora encontrado com ele um pacto por escrito com o
demônio. Para um intelectual de seu porte, mesmo em uma situação
de intensa dor e alto risco, as ofensas que foi obrigado a admitir
devem ter parecido ironicamente ridículas: manter relações sexuais
com um súcubo, voar montado numa vassoura, beijar o ânus de um
bode. O Frei Guillaume Adeline foi queimado vivo.
Continua
no próximo post.