sábado, 14 de julho de 2018



As Profecias – 1.
As Profecias de Daniel.
O tempo da vinda do Messias foi definido mais precisamente pelo profeta Daniel em sua profecia das setenta semanas. O profeta Daniel escreveu a profecia sobre o tempo da chegada do Messias, quando ele e outros hebreus encontravam-se cativos na Babilônia.
Os hebreus foram levados ao cativeiro pelo rei Nabucodonosor, que havia destruído a cidade de Jerusalém no ano 588 A.C. O profeta Daniel sabia que os 70 anos, período do cativeiro babilônico proferido pelo profeta Jeremias (no Cap.25 de seu livro) estava chegando ao fim. Desejando rápido retorno do povo hebreu do cativeiro para sua terra nativa e a restauração da Cidade Santa de Jerusalém, Daniel começou a pedir freqüentemente a Deus por isto, em preces fervorosas. Ao final de uma destas preces, surgiu repentinamente diante dele o Arcanjo Gabriel e disse que Deus ouvira sua prece e em breve auxiliaria os hebreus na restauração da cidade. Prosseguindo, o Arcanjo revelou ainda mais notícias boas, especificamente, que do tempo da declaração do decreto da restauração de Jerusalém, iniciar-se-ia a previsão do ano da vinda do Messias e a instituição do Novo Testamento. Eis o que o Arcanjo Gabriel falou ao profeta Daniel:
"Setenta semanas de anos foram decretadas sobre o teu povo e sobre a tua cidade santa a fim de que as prevaricações se consumam, o pecado tenha o seu fim, a iniqüidade se apague, a justiça eterna seja trazida, as visões e profecias se cumpram e o Santo dos Santos seja ungido. Sabe, pois, isto e adverte-o bem: Desde a saída da ordem para Jerusalém ser reedificada até ao Cristo chefe, passarão sete semanas e sessenta e duas semanas; e serão reedificadas as praças e os muros nos tempos de angústia. Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Cristo, e o povo que O há de negar, não será mais Seu. Um povo com o seu capitão, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário; o seu fim será uma ruína total, e, depois do fim da guerra, virá a desolação decretada. E (o Cristo) confirmará com muitos a Sua Aliança durante uma semana; no meio da semana fará cessar a hóstia e o sacrifício; estará no Templo a abominação da desolação; e a desolação durará até à consumação e até ao fim" (Dan.9:24-27).
A totalidade do tempo, desde o decreto da restauração de Jerusalém até a instituição do Novo Testamento e da segunda destruição desta cidade, está nesta profecia, dividido em três períodos.
A disposição de tempo de cada período era calculado em "semana" anos, isto é, sete anos a fio. A palavra hebraica para "semana" é "shavua" e literalmente significa "sete." Sete é um número sagrado, simbolicamente significa plenitude, perfeição.
O significado da profecia dada é o seguinte: para a nação judáica e para a Cidade Santa são estabelecidas 70 "semanas" (70 x 7 = 490 anos), até à vinda do Santo dos Santos (Cristo), o Qual extinguirá a ilegalidade, trazendo a verdade eterna e realizando todas as profecias.
A norma para a nova construção de Jerusalém e do Templo servirá como o início destas semanas; e as últimas semanas servirão como a segunda destruição de ambos.
Pela ordem dos acontecimentos, estas semanas estão divididas do seguinte modo: durante as primeiras sete "semanas" (i.e. 49 anos) Jerusalém e o Templo serão reconstruídos.
Então, no final das 62 semanas seguintes (i.e. 434 anos) Cristo virá, mas Ele sofrerá e será levado à morte. Finalmente, no decorrer da última "semana" (i.e. 7 anos) será instituído o Novo Testamento e na metade desta "semana" os sacrifícios habituais no Templo de Jerusalém serão extinguidos e haverá no santuário abominação proveniente da desolação. Virá então um povo conduzido por um líder, o qual destruirá a Cidade Santa e o Templo.
É interessante e instrutivo observar, como de fato os acontecimentos históricos se desenrolam no período de tempo designado pelo Arcanjo Gabriel. O decreto para a restauração de Jerusalém foi expedido pelo rei persa Artaxerxes da dinastia Arquemenide em 453 A.C. Este notável acontecimento é descrito em detalhes por Neemias no 2o capítulo de seu livro.
À partir do momento da expedição desse decreto, é que deve se começar a enumeração das "semanas" de Daniel. Pelo método grego de contagem dos anos, este era o 3o ano da 76a Olimpíada. Pelo método romano era o 299o ano após a fundação de Roma.
A restauração dos muros e do Templo foi protelada aproximadamente por 40 ou 50 anos (sete "semanas"), pois muitas nações pagãs que viviam nas regiões vizinhas de Jerusalém, impediam de todas as maneiras possíveis a restauração da cidade.
De acordo com a profecia, o Messias iria sofrer pela purificação dos pecados humanos no período entre 69 e 70 "semanas." Se somarmos ao ano da expedição do decreto da restauração de Jerusalém 69 semanas (69 x 7) i.e. 483 anos, resultará então no 30o ano do método cristão de numeração dos anos. E foi por volta desse tempo, de 30 a 37 D.C. conforme a profecia, que o Messias iria sofrer e morrer.


segunda-feira, 23 de abril de 2018

A Teologia de Culto Reformado - 04,



Continuação do post anterior.

A doutrina que Calvino fez cada vez mais distintivamente sua foi a da Eleição. Pode ser dito que ele redescobriu o sentido da Igreja como o Novo Israel, o povo de Deus. Esta doutrina sem sombra de dúvida é refletida em sua teoria do culto. Ela produziu um profundo senso de honra e reverência perante Deus, que era enfatizado na liturgia pela leitura do Decálogo e pela confissão de fé que era feita pelos cristãos como uma unidade em Cristo. Não era menos sentida na profunda e espontânea gratidão que extravasava através do cântico de salmos pela congregação.
E foi esta doutrina, como também a da Comunhão como “sigillum Verbi” que fazia Calvino enfatizar a unidade da Comunhão antes da Santa Ceia. A comunhão era portanto não um mero apêndice ao ato da pregação, era o ato para os fiéis onde Deus selava suas promessas aos Eleitos. A doutrina da Eleição com sua reflexão na natureza corporativa do culto calvinista contrasta com o individualismo que caracteriza a liturgia Luterana.
Deixar esta matéria desta forma seria uma injustiça para a memória de Lutero. Deve ser reconhecido que Calvino teve que acomodar suas visões em três assuntos. Ele fez uma distinção entre os fundamentais e os não importantes pontos na forma do culto. Ele não vacilava por um momento de sua convicção de que todo o culto deve proceder da divina inspiração, e as tradições humanas não carregavam nenhum peso na adoração. Por outro lado, ele mantinha que em matéria de culto existiam tanto doutrinas fundamentais como também auxílios superficiais que conduziam a paz e concórdia que deveriam ser deixados para o julgamento dos Cristãos como indivíduos. Ele fez apenas três concessões, cada uma delas em matéria de forma, não de doutrina. Ele desistiu de sua fórmula de absolvição quando a população de Genebra a depreciou como novidade.
Ele também permitiu que a Santa Ceia fosse celebrada com pão não fermentado. Ele não desaprovou o uso de pão não fermentado no Sacramento, mas ele não gostou do método pelo qual esta mudança foi introduzida em Genebra, ou seja, ele desaprovou o modo arbitrário pelo qual o vizinho Cantão de Berna exigiu que Genebra adotasse esta prática. Sua terceira e maior concessão, foi a de se render ao requerimento dos magistrados de genebra em permitir a Ceia do Senhor ser celebrada apenas quatro vezes por ano. Este ponto não foi facilmente concedido e Calvino deixou registrado para a posteridade que sua convicção nesta matéria foi imposta pelos magistrados genebrinos.
Estas três concessões não podem ser comparadas em seriedade ou amplitude com as concessões feitas por Lutero. Sendo assim, Calvino não pode ser acusado de inconsistência ou conservadorismo na matéria de acomodação, porque ele sabia tanto a lógica de sua posição e que deveria ceder porque era minoria como porque os pontos em questão eram apenas de menor importância.
É na comparação da doutrina dos sacramentos de Calvino (e particularmente da Ceia do Senhor) com a de Lutero, que a anterior base teológica consistente aparece de forma clara. Não é apenas asseverar que Calvino era meramente lógico no seu tratamento dos Sacramentos, visto que ele reconheceu que existe um ministério impenetrável nos graciosos atos de Deus para com o homem, os quais a razão pode raramente provar. Assim, ele era um adorador de mente acurada. No entanto, sua doutrina dos Sacramentos era mais consistente teologicamente que a de Lutero. Como Barclay demonstra, os dois Reformadores eram concordes em quatro principais aplicações. Ambos condenavam qualquer doutrina que negava a necessidade de fé viva no receptor ou que ensinava que os sacramentos conferiam graça ex opere operato.
Ambos repudiavam a doutrina que mantinha que os Sacramentos deveriam ser entendidos num sentido meramente etimológico como distintivos ou testemunhos da profissão cristã. Em terceiro lugar, eles rejeitavam como inadequada a visão que os sacramentos representavam meras alegorias ou significativas exibições da verdade. Finalmente, ambos se opuseram a doutrina que expressava que a Ceia do Senhor era apenas um rito comemorativo.
Para ambos os sacramentos eram, positivamente, “sigilla verbi”, ou seja, eles eram sinais pelos quais Deus confirmava ou selava suas promessas ao seu povo. A diferença radical entre a visão atrasada luterana e a doutrina Calvinista consistia no fato que Lutero mantinha refere ao seu poder santificador pelo acompanhamento do auxílio de Deus. Lutero pensava que a objetividade do sacramento apenas poderia ser mantida se a eficácia inerente fosse postulada.
Asseverar a fé como uma pré-condição para a sua eficácia parecia para ele fazer os sacramentos dependerem da fé do receptor. Calvino estava bem ciente desta imputação, mas sua doutrina da Ceia do Senhor não pode ser acusada de subjetividade, desde que ele declara que a própria fé é um dom de Deus mediado pelo Espírito Santo. Lutero também achou dificuldade em manter uma crença numa mística união de Cristo com o crente na Santa Ceia, se alguém mantinha que o corpo ressurreto do Senhor era limitado.
Continua no próximo post.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Teologia do Culto Reformado - 03.

Continuação do post anterior.
Alguém poderia perguntar se Lutero ficaria satisfeito com essa resposta, desde que com o senso que tinha da grandiosa condescendência de Deus em Cristo, ele mantinha que Deus tinha dado ao homem auxílios as suas devoções. Tais auxílios eram rituais e cerimônias. Assim como Cristo, pela sua encarnação, santificou a humanidade, então as coisas terrenas poderiam ser sacramentais ao divino.
Lutero não estava preparado a dispensar o “o porta olho” para a alma, como Bunyan iria mais tarde denominar. Como nós iremos ver mais tarde, essa visão era inaceitável para Calvino, desde que ele mantinha que o homem era essencialmente corrupto e que seu culto só era aceitável na medida em que ele se conformava com a lei de Deus nas Escrituras. Calvino mantinha que o Decálogo discorrendo contra “as imagens de escultura”, tinha dispensando suficientemente a necessidade de cerimônias e vestimentas.
A atitude de Lutero será vista, era capaz de ser defendida em termos teológicos. Mas sua atitude não era estritamente teológica, nem era sempre baseada em princípios. Algumas vezes ele era inconsistente com seus princípios. Lutero nem sempre levava suas convicções teológicas as suas conclusões lógicas. Por exemplo, seu apelo ao braço secular para punir os camponeses os quais se revoltaram contra seus senhores era contrario a sua doutrina da liberdade do cristão.
Similarmente, em matéria litúrgica, pode ser fartamente exposto que sua doutrina da Palavra de Deus não foi logicamente desenvolvida. Como atenuante deve ser lembrado, no entanto, que ele foi o primeiro reformador e que no tempo de Calvino a situação era mais estável e os homens tinham mais tempo de refletir nestes assuntos. Não obstante, não pode ser negado que nos últimos anos de Lutero, o reformador mostrou um crescente conservadorismo. Ele desejava mais uniformidade tanto no uso das vestimentas eclesiásticas como nas formas de liturgia. O que previamente era opcional, se tornou obrigatório.

Finalmente, não pode se ter dúvida que a opinião de Lutero foi, em certa extensão, moldada não em cima de um principio, mas pelos acontecimentos. O método era “solvitur ambulando”. Isto era definitivamente o caso na ordem pela qual suas reformas eram executadas. Sua pregação da Justificação pela fé exigiu para ele reformar o Cânon da Missa. Isto por sua vez levou os sacerdotes a serem separados para cada localidade e também para o costume onde cada sacerdote era permitido realizar uma missa a cada dia. O ataque na vida monástica fez com que muitos monges e freiras deixassem suas vidas solitárias, mas agora estavam desempregados.
Continua no próximo post. 

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

A Teologia do Culto Reformado - 02.


Continuação do post anterior.
As últimas duas doutrinas, obviamente, eram derivadas da primeira toda inclusiva doutrina das Escrituras. Uma vez que a Bíblia foi reintegrada em toda a sua autoridade, então se seguiu que qualquer tradição que conflitava com a Palavra de Deus, embora com a sanção da Igreja, tinha que ser abolida. Ainda mais, a primazia das Escrituras determinou um desejo pelo retorno aos princípios e práticas da comunidade primitiva de cristãos como vista nos Atos dos Apóstolos. Estas duas conclusões passaram de mão em mão. Isso porque os erros da igreja contemporânea foram vistos como desvios tanto da Bíblia como também da Igreja primitiva. Ainda, existiam dois princípios dominantes na Bíblia que a prática da Igreja contemporânea desconsiderava.
Se os homens eram justificados por meio da fé na justiça de Cristo, aceitando seu sacrifício como garantia toda suficiente para o perdão de seus pecados, então todas as práticas motivadas por uma crença na justificação pelas obras deveriam desaparecer. Tais práticas incluíam participar da Missa como uma boa obra como também fazer peregrinação. Ainda, a noção de que os santos têm um tesouro de méritos o qual está disponível como um crédito para compensar os débitos do pecador, também tinha que ser abolida. A mesma concepção da eficácia da intercessão dos santos e da mediação necessária do sacerdote anulava a doutrina bíblica de Cristo como único mediador. Se santos e sacerdotes eram indispensáveis, seria inverídico dizer ser Cristo “o único nome dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos”. Portanto através destas três doutrinas integradas no pensamento de ambos os reformadores Lutero e Calvino se fez necessária uma reforma litúrgica.
Os resultados das reformas litúrgicas luteranas e calvinistas foram reconhecidamente diferentes. Como essas diferenças deveriam ser levadas em consideração? É insuficiente explicar estas diferenças assumindo que Lutero era um conservador e cauteloso reformador enquanto que Calvino era lógico e radical. A diferença real entre a reforma luterana e calvinista no culto pode ser disposta como o seguinte: Lutero ficaria com o que não era especificamente condenado nas Escrituras enquanto Calvino iria ficar apenas como o que era ordenado por Deus nas Escrituras. Este era o seu fundamental desacordo. Isto é de vital importância na historia do culto Puritano, desde que os Puritanos aceitavam o critério Calvinista, enquanto que seus oponentes, os Anglicanos, aceitavam o critério Luterano.
A visão de Lutero, que será demonstrada, foi na maior parte direcionada pelas suas considerações teológicas, mas também deve ser levado em alguma conta seu temperamento e suas exigências práticas que ele tinha que encarar como razões de seu assim chamado conservadorismo. Ele deixou isto muito claro quando não desejava introduzir uma “nova lex” em matéria litúrgica. Ele era averso a instalação de um Cristianismo Levítico. Isto, dizia ele, era contrário a liberdade do Cristão. Todavia, Lutero mantinha que a Palavra de Deus, se fielmente pregada, iria por ela mesma criar novas e adequadas formas de culto cristão. Para ele, isso não produziria uma liturgia obrigatória que acorrentava as consciências dos homens Cristãos. Até quando promulgou a Formula Missae ele negou o desejo de obrigar os Cristãos de aceitá-la. Foi meramente introduzida como uma alternativa sugerida à Missa da Igreja Romana, não como uma declaração autoritativa a qual se deva submeter. A variedade de ritos e cerimônias praticadas nos dias atuais pelas Igrejas luteranas do continente é um legado da doutrina de Lutero da liberdade do Cristão. Deve ainda ser lembrado que ele favoreceu a fluidez no fundamento que a uniformidade litúrgica, pela razão de sua própria uniformidade, iria cegar os homens para o caráter interno do culto. Tudo o que ele requeria era que os ritos da Igreja não deveriam conflitar com a orientação da Sagrada Escritura. Isto estava baseada na advertência de Paulo a considerar o irmão mais fraco. Para que eles não fossem desnorteados por nenhum iconoclasticismo, ele propunha abolir apenas o que era contrario ao ensinamento claro das Escrituras. Para o resto, ele iria provar de todas as coisas e reter o quer era bom.
Esta tendência em considerar a tradição da igreja como valiosa, quando e onde ela não contradizia a Escritura, foi confirmada em Lutero por sua doutrina das Ordens. As implicações desta doutrina foram que Deus ordenou ao mundo que o homem não deveria viver como um individuo isolado da sociedade, mas como um ser compartilhando certas relações comunitárias. Tais comunidades ordenadas por Deus são a Igreja e o Estado. Desde que elas dependem para a sua continuidade da divina sanção, os homens devem respeitá-las. Portanto, excetuando-se o que elas definidamente contradizem a vontade revelada de Deus, elas devem ser obedecidas. Tal doutrina coloca um grande prêmio sobre a tradição e deve ser tida como a base religiosa do conservadorismo de Lutero. Também ajuda a explicar o porquê dos bispos tem uma parte importante em decidir quais particulares reformas litúrgicas são desejáveis. Teoricamente, Lutero deixou a escolha de aceitar ou rejeitar suas reformas litúrgicas para os cristãos das igrejas locais, mas na prática a decisão foi deixada para a escolha do bispo.
Um ponto a ser tratado ainda, é a atitude de Lutero para o cerimonial. Em contraste com o despido Culto Calvinista, a liturgia luterana é rica no uso de ações simbólicas e vestimentas. Nesta matéria, nós temos a clara afirmação de Lutero que Deus deu ao homem cinco sentidos com os quais ele o poderia adorar e seria uma franca ingratidão não usá-los. Sem dúvida ele iria considerar a forma de liturgia de Calvino como um exemplo de cultuar a Deus com apenas dois dos sentidos: ouvir e falar ou cantar. Ao contrário da liturgia Luterana que apela para o sentido do olfato nos incensos e para a visão pelo uso de vestimentas e cerimônias. Para esse criticismo Calvino teria legitimamente respondido que o culto é primariamente para a glória de Deus, e secundariamente para a edificação do homem e não para o prazer deles.

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sábado, 14 de outubro de 2017

     A Teologia do Culto Reformado - 1.

     É freqüentemente suposto que as reformas litúrgicas de Lutero e Calvino são concordes somente na condenação dos abusos existentes no final da Igreja Medieval. É também admitido que as diferenças nas respectivas concepções de Culto e no cerne essencial das suas ordens litúrgicas refletiam os contrastes no temperamento deles. Isto é um grave equivoco no entendimento tanto de Lutero como de Calvino em dois aspectos. Uma tentativa será feita para mostrar que os pilares gêmeos da Reforma concordavam não apenas no que constituía os abusos do final da igreja medieval, mas também no desejo de retornar para a primitiva simplicidade do culto cristão.
     A concordância deles sobre os abusos que deviam ser corrigidos, muito mais que a expressão de suas preferências subjetivas, foi devida às doutrinas teológicas que eles mantinham em comum. Em segundo lugar, será demonstrado que é uma simplificação espúria da matéria, declarar que os desacordos entre Lutero e Calvino são explicados como resultado, respectivamente, do conservadorismo de Lutero e da natureza rigidamente lógica de Calvino. Mesmo que esta afirmação seja alterada e venha a produzir a impressão que Calvino foi inteiramente verdadeiro aos seus princípios, enquanto Lutero foi conservador, isto ainda permanece uma concepção injusta a respeito de Lutero. Seu aparente conservadorismo pode ser explicado por princípios teológicos.
   Os Reformadores eram concordes com respeito aos abusos da igreja medieval, que deviam ser corrigidos. Em particular, eles investiram contra quatro falsas concepções. Sua comum “aversão peculiar” foi o ensinamento a respeito da Missa da Igreja medieval. Eles concordavam em condenar o ensinamento que proclama ser na Missa mais uma vez oferecido o sacrifício que de uma vez por todas foi feito no Calvário. Não parecia nada menos que blasfemo para eles que homens ousassem asseverar que o sacrifício feito na Cruz exigia ser repetido. Eles estavam igualmente seguros, em segundo lugar, que a Missa como era celebrada não era uma comunhão. O povo não comungava de ambos os elementos; eles eram apenas espectadores de um drama no qual o sacerdote era o ator principal e o coro cantava uma música incidental e complicada. Isso não era tudo; o serviço da Missa não era nem inteligível para a maior parte do povo, porque onde era audível, o era falada ou cantada em uma língua acadêmica, o latim. 
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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

A Doutrina de Deus – 19.


Continuação do post anterior.
Uma outra indagação freqüentemente feita pelos crentes é a seguinte: “Porque o crente precisa sofrer tantas dificuldades, se Deus realmente controla todos os acontecimentos desta vida?” A bíblia revela diversas razões para isso:
  1. Essas dificuldades podem ser permitidas por Deus tendo em mira o desenvolvimento espiritual do crente. Veja Salmo 94.12: “Bem-aventurado o homem, SENHOR, a quem tu repreendes, a quem ensinas a tua lei” - RA e Hebreus 12.5-13.
  2. Essas dificuldades podem representar provações, que preparam o crente para avenidas ainda mais largas do serviço cristão. (veja 1 Coríntios 16.9: “ porque uma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu; e há muitos adversários.” - RA e Tiago 1.2-12.
  3. As aflições também glorificam a Deus, se reagirmos a elas da maneira certa. Veja Jó capítulos 1, 2 e 42.
  4. As dificuldades fazem parte do alto chamamento da Igreja. Veja Jo 15.18: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim” - RA; Jo 16.33: “ Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” - RA); Atos dos Apóstolos 14.22: “ fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus”.- RA e 1 Pedro 4.12-19.
Pelo fato de algumas vezes, Deus intervir ativamente nas atividades das pessoas, sabemos que podemos desempenhar um papel muito eficaz na vida de outras pessoas, quando oramos. Moisés rogou ao Senhor e Israel foi salvo da destruição. Elias orou e o Palácio foi abalado. São muitos os exemplos em ambos os Testamentos da intervenção de Deus quando seu povo orou. Ele faz certas coisas em resposta direta às orações dos crentes.
Mas Ele realiza outros feitos, sem que ninguém precise orar a respeito. E também há vezes em que Deus parece fazer exatamente ao contrário daquilo que estamos orando, visto que, em Sua soberania, Ele está visando o nosso maior bem. Se Deus quiser fazer coisas sobre as quais ninguém esteja orando, mesmo assim Ele as fará. Se orarmos sobre coisas contrárias a Sua vontade, então Ele recusar-se-á a no-las conceder. Portanto, há uma perfeita harmonia entre os Seus propósitos e a Sua Providência, por um lado, e a liberdade humana por outro lado.
Por conseguinte, conforme já vimos, algumas vezes os crentes padecem como resultado de estarem vivendo em um mundo maligno. Deus que controla todas as coisas, nem sempre impede que indivíduos maus pratiquem o que é ruim. Tanto crentes como não-crentes podem sofrer em decorrência de descuidos. Geralmente Deus não interfere nas leis físicas normais e nem em nossa própria liberdade de escolha. Todas as pessoas vivem em um mundo onde cada um de nós está sujeito a acidentes e a morte eventual.
O nosso alvo não consiste em realizar as nossas próprias idéias sobre a vida, mas antes, consiste em viver de tal maneira que isto resulte na glória de Deus. O amor de Deus por nós jamais se altera e Ele prometeu que, se nós O amarmos, Ele operará em todas as coisas visando o nosso bem. Dotados de tal conhecimento, podemos entregar-nos confiadamente nas mãos do nosso soberano Deus, crendo que as razões para quaisquer circunstâncias que Ele imponha, permita, determine ou impeça, algum dia ficarão tão claras para nós quanto o são para Ele.
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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

A Doutrina de Deus – 18.
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Paulo assevera que Deus “faz todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade” (Efésios 1.11), e também afirma que Deus opera em nós “tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade” (Filipenses 2.13). Ele confere-nos discernimento quanto as situações da vida e guia-nos por meio do Seu Santo Espírito. Ele adverte-nos quanto às consequências do fracasso e procura conquistar-nos gentilmente. Contudo, não tira a nossa liberdade, visto que não nos impõe a Sua vontade à força. Dentro da experiência da salvação, Ele dá início à Sua admirável realização, colocando-se do lado de fora de nosso coração e batendo; mas, nós é que devemos abrir-Lhe a porta. (veja Apocalipse 3.20: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”. - RA). Além disso, o Espírito Santo vem habitar em nós. Ele mantém o controle sobre as nossas vidas por todo o tempo em que nos mantivermos submissos ao Seu senhorio. Nosso relacionamento com Ele, como nosso Senhor, continua baseado em nosso amor por Ele e a nossa escolha de entregar a Ele o controle de nossas vidas.
3.Governo. Refere-se às atividades do governo divino, com o objetivo de concretizar os Seus propósitos divinos. Conforme vimos, Deus governou o mundo físico por meio de leis que Ele mesmo estabeleceu. E Ele governa as pessoas através das leis e propriedades da mente, e também mediante as operações do Espírito Santo. Assim fazendo, Deus usa todas as formas de influência, como as circunstâncias, os motivos, a instrução, a persuasão e a força do exemplo. Ele opera diretamente, por meio das operações do Espírito Santo para que influencie o intelecto, as emoções e a vontade do homem.
Deus governa todas as coisas pelo menos de quatro maneiras diferentes. Quando compreendemos essas maneiras percebemos a relação que há entre a vontade soberana de Deus, na realização do Seu plano divino e a vontade do homem, que atua livremente.
  1. Algumas vezes Deus nada faz para impedir o homem de fazer o que ele resolveu fazer. Isso não quer dizer que Deus esteja aprovando o pecador, mas é que Ele não impõe o Seu poder para impedir esses atos errados. Exemplos disso aparecem em Atos dos Apóstolos 14.15,16 e Salmos 81.12,13.
  2. De outras vezes, Deus impede os homens de cometerem o pecado, influenciando-os para que não pequem. Exemplos disso vemos em Gênesis 20.6; 31.34 e Oséias 2.6. O salmista orou solicitando esse tipo de ajuda, conforme se lê em Salmos 19.13: “da soberba guarda o teu servo”.
  3. De outras vezes, sobre a direção divina, Deus redireciona os atos de homens maus, usando esses atos para que redundem em bons resultados. Já vimos um exemplo disso na vida de José. Seus irmãos pecaram, mas Deus usou tal erro para fazer algo de bom.
  4. Finalmente, algumas vezes Deus determina os limites do pecado e da iniqüidade. Trechos bíblicos como os de Jó 1.12 e 2.6 indicam que Deus impõe limites às atividades de satanás. Paulo em 1 Coríntios 10.13 declara que o Senhor também estabelece um limite aos testes e tentações que os crentes precisam enfrentar.
A providência transmite-nos a idéia de que Deus governa amorosamente todas as coisas. Esse amor atinge a sua expressão culminante nas palavras do apóstolo: “... todas as coisas colaboram juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu decreto” (Romanos 8.28).
Efeitos da Providência Divina.
De que maneira a providência divina afeta as nossas experiências pessoais? Muitos trechos bíblicos revelam a promessa divina de fazer prosperar os justos (veja Levítico 26.3-13 e Deuteronômio 28.1-14). Deus abençoa aqueles que Lhe pertencem – Suas bênçãos, porém, são por demais numerosas para serem mencionadas uma a uma.
Entretanto, com certa freqüência, os retos indagam: Por que os ímpios prosperam? E porque eles não são castigados? O salmista responde que 1) A prosperidade dos ímpios é apenas temporária; e 2) eventualmente Deus haverá de julgara iniqüidade dos ímpios (Veja Salmos 37.16-22; 73.1-28; ver também Malaquias 3.13-4.3).
Portanto, quando alguém lhe perguntar: “Por qual razão Deus não põe um ponto final em toda essa violência?”, então você poderá responder com toda confiança: “Espere para ver o ato final desse drama. Deus já iniciou o Seu plano para eliminar o egoísmo, o desespero, a rebeldia e a corrupção. De acordo com o Seu plano eterno, haverá bênçãos e prosperidade para todos quanto amam a Deus”. Nesse ínterim, Deus vai adiando o julgamento, a fim de dar aos ímpios a oportunidade de se arrependerem (ver Romanos 2.4 e 2 Pedro 3.9)

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