segunda-feira, 24 de junho de 2013

Os grandes Cismas do Cristianismo - 03.



   Continuação do post anterior.

   Durante os anos seguintes tentou-se reconciliar calcedonianos e monofisistas. O imperador reunificou o império romano e buscou uma confissão de fé unificada, única, para os cinco grandes patriarcados cristãos – Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. Justino pretendeu que o Concílio de Calcedônia, juntamente com os de Nicéia e Éfeso deveriam ser o fundamento dessa confissão.
Em busca de sua meta de um império romano totalmente cristão e unido, decretos foram baixados banindo o paganismo e exigindo o batismo de todos os incrédulos remanescentes. Fechou a Academia Platônica de Atenas (529), um centro de lealdade e aprendizado do paganismo. Perseguiu os samaritanos e estabeleceu severas limitações dos direitos civis e religiosos dos judeus. Tornou proscritos o maniqueísmo, o arianismo e outras heresias.
Entretanto, no final o imperador fracassou apesar da autoridade absoluta com que conduziu os assuntos. Já estava se desenvolvendo o processo pelo qual o partido monofisista deixava de ser um mero partido e tornava-se uma série de igrejas separadas e nacionalmente embasadas na Síria, Egito, Armênia e eventualmente Etiópia e Pérsia. Quando da morte de Justiniano, já havia uma igreja monofisista centralizada no norte da Síria e da Cilícia com seu próprio cabeça, o patriarca de Antioquia. Essa igreja utilizava o ciríaco como sua língua teológica e litúrgica para distinção da igreja oriental oficial e tinha sua base nos mosteiros e vilas do interior do norte da Síria, onde ela existe até hoje.
No Egito a resistência às políticas religiosas e teológicas estava enraizada na firme oposição dos monges e do povo ao Concílio de Calcedônia e também na percepção de que a sua cristologia era uma causa nativa, copta, egípcia, a ser mantida firmemente diante das tentativas imperiais de impor, de Constantinopla, uma ortodoxia estrangeira. Desde 575 – apesar das sérias divisões entre os próprios monofisistas – havia um patriarca copta em Alexandria para rivalizar com seu correspondente melquita (isto é, real ou imperial).
Foi essa igreja monofisista de fala copta que abraçou a maioria dos cristãos egípcios e sobreviveu às conquistas persa e árabe para se tornar a forma prevalente do cristianismo no Egito até os dias de hoje. Esse Cristianismo foi transmitido por missionários aos reinos da Núbia e Etiópia e a igreja tem permanecido lá, até os dias de hoje formalmente dependente do patriarca copta de Alexandria.
A segunda oposição doutrinal decorre de um mal entendido – a célebre questão do ”filioque”. E originou-se quando o imperador pediu a inclusão do trecho “creio no Espírito Santo que procede do Pai e do Filho” no Credo de Nicéia. As igrejas do oriente se opuseram, pois diziam que isso rompia o equilíbrio da Trindade em detrimento do Espírito Santo, a terceira pessoa divina. Alem disso era uma contradição à proibição de se modificar o credo de Nicéia. Enfim, estaria em desacordo com João 15.16. A tradução correta seria “no Espírito Santo que procede do Pai e é enviado ao Filho”. Para a igreja do oriente há relação mútua entre o Espírito e o Filho e não dependência do primeiro em relação ao segundo.
      Continua no próximo post.

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