Continuação do post anterior.
Durante os anos seguintes
tentou-se reconciliar calcedonianos e monofisistas. O imperador reunificou o
império romano e buscou uma confissão de fé unificada, única, para os cinco grandes
patriarcados cristãos – Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e
Jerusalém. Justino pretendeu que o Concílio de Calcedônia, juntamente com os de
Nicéia e Éfeso deveriam ser o fundamento dessa confissão.
Em busca de sua meta de um império
romano totalmente cristão e unido, decretos foram baixados banindo o paganismo
e exigindo o batismo de todos os incrédulos remanescentes. Fechou a Academia
Platônica de Atenas (529), um centro de lealdade e aprendizado do paganismo.
Perseguiu os samaritanos e estabeleceu severas limitações dos direitos civis e
religiosos dos judeus. Tornou proscritos o maniqueísmo, o arianismo e outras
heresias.
Entretanto, no final o imperador
fracassou apesar da autoridade absoluta com que conduziu os assuntos. Já estava
se desenvolvendo o processo pelo qual o partido monofisista deixava de ser um
mero partido e tornava-se uma série de igrejas separadas e nacionalmente
embasadas na Síria, Egito, Armênia e eventualmente Etiópia e Pérsia. Quando da
morte de Justiniano, já havia uma igreja monofisista centralizada no norte da
Síria e da Cilícia com seu próprio cabeça, o patriarca de Antioquia. Essa
igreja utilizava o ciríaco como sua língua teológica e litúrgica para distinção
da igreja oriental oficial e tinha sua base nos mosteiros e vilas do interior
do norte da Síria, onde ela existe até hoje.
No Egito a resistência às
políticas religiosas e teológicas estava enraizada na firme oposição dos monges
e do povo ao Concílio de Calcedônia e também na percepção de que a sua
cristologia era uma causa nativa, copta, egípcia, a ser mantida firmemente
diante das tentativas imperiais de impor, de Constantinopla, uma ortodoxia
estrangeira. Desde 575 – apesar das sérias divisões entre os próprios
monofisistas – havia um patriarca copta em Alexandria para rivalizar com seu
correspondente melquita (isto é, real ou imperial).
Foi essa igreja monofisista de
fala copta que abraçou a maioria dos cristãos egípcios e sobreviveu às
conquistas persa e árabe para se tornar a forma prevalente do cristianismo no
Egito até os dias de hoje. Esse Cristianismo foi transmitido por missionários
aos reinos da Núbia e Etiópia e a igreja tem permanecido lá, até os dias de
hoje formalmente dependente do patriarca copta de Alexandria.
A segunda oposição doutrinal decorre
de um mal entendido – a célebre questão do ”filioque”.
E originou-se quando o imperador pediu a inclusão do trecho “creio no Espírito Santo que procede do Pai
e do Filho” no Credo de Nicéia. As igrejas do oriente se opuseram, pois
diziam que isso rompia o equilíbrio da Trindade em detrimento do Espírito
Santo, a terceira pessoa divina. Alem disso era uma contradição à proibição de
se modificar o credo de Nicéia. Enfim, estaria em desacordo com João 15.16. A
tradução correta seria “no Espírito Santo
que procede do Pai e é enviado ao Filho”. Para a igreja do oriente há
relação mútua entre o Espírito e o Filho e não dependência do primeiro em
relação ao segundo.
Continua no próximo post.
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