Continuação do post anterior.
Relações da Ortodoxia com Protestantes
e Anglicanos.
1. Missionários Protestantes na igreja
Ortodoxa.
Pouco antes de o protestantismo começar
a se rachar numa multidão de igrejinhas, devido à sua falta de unidade no dogma
e no comando, e à livre interpretação das Escrituras, de acordo com o
entendimento de cada um, que representantes dessas muitas igrejas protestantes,
particularmente da América, começaram a visitar a Grécia, por volta de 1810; e
outros chegaram logo depois da Revolução grega, com o objetivo de ajudar os
gregos no seu despertar nacional e espiritual. Alguns deles abriram escolas,
que eram a gritante necessidade daquele tempo, e outros distribuíram livros ou
deram cópias das Sagradas Escrituras no texto original ou em traduções para o
grego moderno.
Os gregos, no início, receberam isso
sem suspeita como um presente dos seus benfeitores; e certos Patriarcas de
Constantinopla, como Cirilo VI em 1814 e Gregório V em 1819, aplaudiram a
propagação das Escrituras e louvaram as traduções para o grego popular como
sendo de grande benefício para o povo. Mas quando os missionários protestantes
começaram a revelar suas reais intenções de tentar conseguir conversões, e
distribuir pequenos volumes ofensivos aos sentimentos ortodoxos, geraram a
inimizade da nação e imediatamente tornaram-se impopulares, sendo suas
Escrituras queimadas em fogueiras. Os gregos que haviam sofrido tanto pela
preservação de sua fé, estavam agudamente sensíveis a qualquer ataque a ela.
Eis aí o porquê de, depois de mais de um século de atividade na Grécia, o
Protestantismo não conseguiu mais do que um punhado de "Evangélicos"
em Atenas e outras localidades.
2. Anglicanos e Ortodoxos.
As relações entre as Igrejas Ortodoxas
e Anglicanas são completamente diferentes, pois os anglicanos, somente eles
entre os vários ramos do protestantismo, tanto reconhecem as três ordens do
Sacerdócio como mais ou menos louvam a Sagrada Tradição. Como já notamos,
relações foram estabelecidas entre Ortodoxos e Anglicanos primeiramente no
tempo de Lucar. Foram renovadas no século dezoito, quando os non-jurors (a
seção da Igreja Anglicana que se recusou a fazer o juramento de lealdade a
George I da Inglaterra) submeteram aos Patriarcas do Oriente, um plano de união
com as Igrejas do Oriente. Mas foi de 1869 em diante, que anglicanos e
ortodoxos começaram a se aproximar, quando o Patriarca de Constantinopla
Gregório VI, depois de receber com grande satisfação cartas de Campbell,
Arcebispo de Canterbury, em favor da união, mandou uma carta encílica a seu
clero, orientando-os a sepultar membros da Igreja Anglicana, na ausência de
Ministros Anglicanos; e mandou o Arcebispo de Syra, Alexandre Lycurgos, para a
Inglaterra, para fortalecer os elos entre as duas igrejas.
Desde então, bispos Anglicanos têm
visitado as Igrejas do Oriente, como João de Salisbury em 1898, o Bispo de
Londres no começo da Guerra Mundial, e o Arcebispo de Canterbury, Cosmo Lang,
que foi bem-vindo em Atenas no último ano. Bispos da Grécia, Rússia, Sérvia e
outros países, o Patriarca Photius de Alexandria e Damianos de Jerusalem,
visitaram a Inglaterra em troca, e juntaram-se aos anglicanos em solenes
orações na Catedral de São Paulo e na Abadia de Westminster. Um grande passo
adiante na relação entre as duas igrejas foi dado no verão de 1930, quando quase
todas as Igrejas Ortodoxas mandaram representantes para a Conferência de
Lambeth, sob a liderança do Patriarca de Alexandria, Meletius Metaxakis, para
discutir e levantar termos de união. Essa amizade entre anglicanismo e
ortodoxia é devida ao reconhecimento pela Igreja Ortodoxa da validade das
ordens anglicanas, que sempre foram questionadas pela Igreja de Roma; pela
abstenção na Igreja Anglicana de esforços para converter Ortodoxos; e pela
troca de cartas de paz em ocasiões cerimoniais.
As Igrejas Ortodoxa e Anglicana diferem
entre si em pontos de dogma, e uma união sacramental entre elas é no momento
uma possibilidade ainda remota. A diferença de crença, que caracteriza uma
igreja, é incompatível com a uniformidade da fé, professada pela outra. Mas por
mútuo interesse que elas têm, e pela natureza fraterna de suas relações
externas, Anglicanismo e Ortodoxia estão seguindo o caminho que todas as
igrejas separadas deveriam seguir para atingir a completa e universal unidade.
Continua no próximo post.