A
Revolta dentro da Igreja.
A
Aurora da Reforma – As condições anteriormente descritas
deram origem a duas revoltas que a Igreja não conseguiu evitar, nos
séculos 14 e 15.
João
Wycliff – O espírito do nacionalismo que vinha se
desenvolvendo na Inglaterra preparou o caminho para a obra de
Wycliif. A Inglaterra pelos seus reis, pelo seu parlamento, e até
pelos seus bispos já resistira à interferência papal nos negócios
da igreja inglesa. Wycliif (nascido entre 1320 e 1330), era
considerado o homem mais culto e mais destacado da Universidade de
Oxford. Além disso ele também era padre em Lutterworth, quando
alcançou a extrema simpatia das classes pobres. Sua primeira
investida foi contra o suposto direito do papa de cobrar impostos e
taxas na Inglaterra. O cisma papal muito contribuiu para espalhar os
pontos de vista de Wycliif. Denunciou o papado e toda a organização
clerical sustentando que não devia haver distinção de classes
entre o clero. Indo além negou que houvera fundamento bíblico para
a doutrina da Transubstanciação, adotada, então, pela Igreja.
Por
causa dos seus ensinos, Wycliif foi condenado por um Concílio
eclesiástico. Diante disso fez o seu grande apelo ao povo inglês.
Em muitos tratados escritos em linguagem acessível ao povo comum
atacou todo o sistema da Igreja e declarou que a Bíblia é a única
e verdadeira regra de fé e prática. Surgiu então o seu maior
trabalho, a tradução da Bíblia, da Vulgata (versão em latim) para
o inglês. Foi assim que Wycliif e seus auxiliares, os homens mais
cultos de Oxford abriram a Bíblia ao povo da Inglaterra pela
primeira vez. Para espalhar entre o povo a Bíblia e seus ensinos,
ele organizou a ordem dos “sacerdotes pobres” conhecidos como os
“Irmãos Lollardos”, muitos dos quais eram estudantes de Oxford.
A maioria porém, era constituída de gente simples de sua paróquia.
Usando roupas grosseiras, andando muitas vezes descalços e de cajado
na mão, dependendo de esmolas para o seu sustento, percorriam toda a
Inglaterra. Conduziam manuscritos dos tratados de Wycliif, sermões e
trechos bíblicos e pregavam por toda a parte. Esse movimento cresceu
de modo extraordinário e se constituíram numa força poderosa na
disseminação da religião evangélica.
Embora
miseravelmente perseguidos, continuaram sua obra até o tempo da
Reforma. Quando seus missionários já enchiam as estradas, chegou
ao fim a vida de Wycliif. Era tão forte a sua posição na
Inglaterra que as autoridades eclesiásticas nada fizeram contra ele,
além de classificá-lo como herege. E assim morreu em paz em sua
paróquia.
João
Huss – Foram os ensinos de Wycliif que deram origem a uma
revolta maior, chefiada por João Huss (1373-1415), contra a Igreja
papal. Huss era muito culto e exercia poderosa influência na
Universidade de Praga, além de ser padre. Era um grande pregador
dessa cidade, onde se tornou o porta-voz nacional dos anseios
políticos e religiosos do seu povo. Huss expressou com muito vigor a
determinação que o povo tinha de manter os seus direitos contra os
alemães e o seu forte protesto no sentido de que o clero imoral e de
atitude afrontosa à Boêmia, fosse reformado. Conhecedor profundo de
sua gente e por ela respeitado e estimado, em virtude da sua vida de
pureza e caráter sincero, possuidor de uma eloqüência incomum,
tornou-se um poderoso líder nacional.
De
posse dos livros de Wycliif, avidamente bebeu-lhe as idéias.
Ensinando as doutrinas de um “herege”, rapidamente entrou em
conflito com os chefes da Igreja papal. Defendeu o seu direito de
pregar a verdade de Cristo como a sentia e entendia. Foi excomungado
pelo seu “desafio” ao papa João XXIII em 1412. Escreveu no seu
livro mais importante, que o Novo Testamento, chamado por ele de “Lei
de Cristo” era o guia suficiente para a Igreja e que o papa só
podia ser obedecido até onde suas ordens coincidissem com essa lei
divina. Foi então julgado pela Igreja em Constança. O seu
julgamento foi uma farsa e um escárnio. Esse mesmo Concílio também
condenou o pároco João Wycliif, morto havia trinta anos, como um
herege. Assim o caso Huss foi logo decidido pela Igreja papal.
Protestando a sua fidelidade à Cristo e desprezando a liberdade que
lhe ofereciam em troca do abandono de seus princípios, foi condenado
à morte na fogueira, onde morreu queimado vivo.
A
ira e a revolta dos boêmios pelo assassinato do seu líder e herói
nacional, não tiveram limites. Levantou-se um grande partido que
iniciou a guerra pela independência. Derrotaram o imperador alemão.
Devastaram parte da Alemanha e perturbaram grandemente os negócios
da Europa em geral. Depois dessa revolta de caráter político,
apareceram os “Irmãos Boêmios”, uma poderosa organização
religiosa que não pertencia à Igreja, cuja atividade empolgou toda
a Boêmia e a Morávia, como também algumas regiões da Alemanha,
com o seu “Cristianismo Evangélico”. Em outras partes da Europa,
o martírio de Huss fortaleceu o espírito de revolta contra a Igreja
papal.
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