sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A Era da Reforma Protestante - 04.

A Revolta dentro da Igreja.
A Aurora da Reforma – As condições anteriormente descritas deram origem a duas revoltas que a Igreja não conseguiu evitar, nos séculos 14 e 15.
João Wycliff – O espírito do nacionalismo que vinha se desenvolvendo na Inglaterra preparou o caminho para a obra de Wycliif. A Inglaterra pelos seus reis, pelo seu parlamento, e até pelos seus bispos já resistira à interferência papal nos negócios da igreja inglesa. Wycliif (nascido entre 1320 e 1330), era considerado o homem mais culto e mais destacado da Universidade de Oxford. Além disso ele também era padre em Lutterworth, quando alcançou a extrema simpatia das classes pobres. Sua primeira investida foi contra o suposto direito do papa de cobrar impostos e taxas na Inglaterra. O cisma papal muito contribuiu para espalhar os pontos de vista de Wycliif. Denunciou o papado e toda a organização clerical sustentando que não devia haver distinção de classes entre o clero. Indo além negou que houvera fundamento bíblico para a doutrina da Transubstanciação, adotada, então, pela Igreja.
Por causa dos seus ensinos, Wycliif foi condenado por um Concílio eclesiástico. Diante disso fez o seu grande apelo ao povo inglês. Em muitos tratados escritos em linguagem acessível ao povo comum atacou todo o sistema da Igreja e declarou que a Bíblia é a única e verdadeira regra de fé e prática. Surgiu então o seu maior trabalho, a tradução da Bíblia, da Vulgata (versão em latim) para o inglês. Foi assim que Wycliif e seus auxiliares, os homens mais cultos de Oxford abriram a Bíblia ao povo da Inglaterra pela primeira vez. Para espalhar entre o povo a Bíblia e seus ensinos, ele organizou a ordem dos “sacerdotes pobres” conhecidos como os “Irmãos Lollardos”, muitos dos quais eram estudantes de Oxford. A maioria porém, era constituída de gente simples de sua paróquia. Usando roupas grosseiras, andando muitas vezes descalços e de cajado na mão, dependendo de esmolas para o seu sustento, percorriam toda a Inglaterra. Conduziam manuscritos dos tratados de Wycliif, sermões e trechos bíblicos e pregavam por toda a parte. Esse movimento cresceu de modo extraordinário e se constituíram numa força poderosa na disseminação da religião evangélica.
Embora miseravelmente perseguidos, continuaram sua obra até o tempo da Reforma. Quando seus missionários já enchiam as estradas, chegou ao fim a vida de Wycliif. Era tão forte a sua posição na Inglaterra que as autoridades eclesiásticas nada fizeram contra ele, além de classificá-lo como herege. E assim morreu em paz em sua paróquia.
João Huss – Foram os ensinos de Wycliif que deram origem a uma revolta maior, chefiada por João Huss (1373-1415), contra a Igreja papal. Huss era muito culto e exercia poderosa influência na Universidade de Praga, além de ser padre. Era um grande pregador dessa cidade, onde se tornou o porta-voz nacional dos anseios políticos e religiosos do seu povo. Huss expressou com muito vigor a determinação que o povo tinha de manter os seus direitos contra os alemães e o seu forte protesto no sentido de que o clero imoral e de atitude afrontosa à Boêmia, fosse reformado. Conhecedor profundo de sua gente e por ela respeitado e estimado, em virtude da sua vida de pureza e caráter sincero, possuidor de uma eloqüência incomum, tornou-se um poderoso líder nacional.
De posse dos livros de Wycliif, avidamente bebeu-lhe as idéias. Ensinando as doutrinas de um “herege”, rapidamente entrou em conflito com os chefes da Igreja papal. Defendeu o seu direito de pregar a verdade de Cristo como a sentia e entendia. Foi excomungado pelo seu “desafio” ao papa João XXIII em 1412. Escreveu no seu livro mais importante, que o Novo Testamento, chamado por ele de “Lei de Cristo” era o guia suficiente para a Igreja e que o papa só podia ser obedecido até onde suas ordens coincidissem com essa lei divina. Foi então julgado pela Igreja em Constança. O seu julgamento foi uma farsa e um escárnio. Esse mesmo Concílio também condenou o pároco João Wycliif, morto havia trinta anos, como um herege. Assim o caso Huss foi logo decidido pela Igreja papal. Protestando a sua fidelidade à Cristo e desprezando a liberdade que lhe ofereciam em troca do abandono de seus princípios, foi condenado à morte na fogueira, onde morreu queimado vivo.

A ira e a revolta dos boêmios pelo assassinato do seu líder e herói nacional, não tiveram limites. Levantou-se um grande partido que iniciou a guerra pela independência. Derrotaram o imperador alemão. Devastaram parte da Alemanha e perturbaram grandemente os negócios da Europa em geral. Depois dessa revolta de caráter político, apareceram os “Irmãos Boêmios”, uma poderosa organização religiosa que não pertencia à Igreja, cuja atividade empolgou toda a Boêmia e a Morávia, como também algumas regiões da Alemanha, com o seu “Cristianismo Evangélico”. Em outras partes da Europa, o martírio de Huss fortaleceu o espírito de revolta contra a Igreja papal.

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